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    Editorial

    Desafios argentinos

    12/12/2015 02h00

    O novo presidente da Argentina, Mauricio Macri, tomou posse na última quinta-feira (10) tendo à frente o desafio de reunificar um país fraturado pelo sectarismo ideológico e recuperar a credibilidade internacional perdida nos 12 anos de domínio kirchnerista.

    Não serão tarefas fáceis. No plano interno, a ex-presidente Cristina Kirchner já deu seguidas demonstrações de que pretende dificultar o trabalho de seu sucessor.

    A transição entre os dois governos foi marcada por rusgas. Começou com diferenças sobre o local de entrega da faixa presidencial, passou por uma liminar judicial obrigando Cristina a deixar o poder à meia-noite de quarta-feira e culminou com o ridículo boicote dela à posse no novo mandatário.

    Ainda que o gesto tenha uma conotação sobretudo simbólica, mostra a disposição inicial da ex-presidente pela oposição empedernida e estridente.

    Até como resposta, Mauricio Macri pregou a conciliação em seu primeiro discurso. "Chegou um momento em que todos temos de nos unir. Queremos o apoio de todos, dos que se sentem de esquerda e dos que se sentem de direita, peronistas e antiperonistas."

    O apelo de Macri, mais do que meramente retórico, possui uma razão prática. Com a coalização que o elegeu (Cambiemos) em minoria na Câmara e no Senado argentino, o novo presidente precisa do apoio de congressistas ligados ao kirchnerismo para aprovar medidas que permitam reorganizar as finanças do país.

    Na arena externa, Macri tenta vender uma nova Argentina a fim de atrair investidores estrangeiros: um país que passará a ter "regras claras e previsibilidade econômica" e agirá despido dos impulsos ideológicos do passado recente.

    Afastou-se da Venezuela ao mesmo tempo em que fez acenos em direção ao Chile, Peru e México, membros da exitosa aliança comercial do Pacífico.

    A escolha do Brasil como primeiro destino, além disso, explicitou a disposição de Macri de retomar uma relação cujos laços têm se afrouxado ano após ano.

    De 2011 a 2014, o intercâmbio comercial entre os dois países caiu de US$ 39,5 bilhões para US$ 28 bilhões, regredindo ao patamar de 2007. Ademais, a participação da Argentina no conjunto das exportações brasileiras encolheu nos últimos dez anos, de 8,3% para 6,3%.

    Mauricio Macri, por fim, defendeu fortalecer o Mercosul e destravar o acordo comercial com a União Europeia, que se arrasta há 15 anos e cujo avanço passa pela redução do protecionismo do país vizinho.

    Por isso são altas as expectativas em relação ao novo governo argentino –e muitos os obstáculos decorrentes do arraigado corporativismo e da forte presença peronista.

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