• Opinião

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    EDITORIAL

    Pressão sobre a Venezuela

    28/12/2015 02h00

    Embora não existam absolutos na política, a observância de alguns princípios fundamentais, como o respeito aos direitos humanos, beira o inegociável. Daí por que é bem-vinda a inflexão do Mercosul em relação à Venezuela, que ainda flerta com a ideia de se converter em ditadura escancarada.

    Liderado pela Argentina –agora sob nova administração– e pelo Paraguai, o bloco sul-americano passou a pressionar Caracas na questão dos políticos opositores que estão sendo mantidos presos pelo governo sob pretextos frágeis.

    Na última cúpula do Mercosul, que teve lugar em Assunção, na semana passada, os países firmaram uma declaração especial que enfatizou o compromisso de todos os membros com os direitos humanos. Mostraram, além disso, a intenção de criar uma comissão destinada a monitorar o tema.

    Tais mudanças podem parecer detalhes sem muita consequência, mas, na linguagem diplomática, representam um golpe forte. Tanto que, percebendo que os ventos não ficariam a seu favor, o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, cancelou na última hora sua ida a Assunção, enviando em seu lugar a chanceler Delcy Rodríguez.

    O Brasil, numa atitude que infelizmente vem se tornando marca registrada da administração Dilma Rousseff (PT) e do Itamaraty, evitou fazer defesa mais explícita dos direitos humanos.

    Verdade que o país assinou o comunicado que pressiona o governo Maduro, mas, antes disso, somara-se ao Uruguai para impedir a adoção de posição mais crítica.

    Não se espera do Brasil que altere de modo profundo seu relacionamento com Maduro. Não seria crível –talvez nem mesmo producente. Pode-se argumentar que a diplomacia brasileira mostra-se mais útil atuando perto da Venezuela do que engrossando o crescente coro dos críticos veementes.

    Uma das vantagens dessa posição está justamente em poder alertar sobre os erros sem que isso configure uma afronta. Se não há dúvida de que a vocação autoritária do chavismo constitui problema grave, cabe ao Brasil dizê-lo em alto e bom som.

    O governo Maduro acaba de demonstrar que não rompeu inteiramente seu compromisso com a democracia ao aceitar, ainda que com muitas ressalvas, o resultado das eleições parlamentares, das quais saiu fragorosamente derrotado.

    É um bom momento para que tente acertar o prumo e recue das prisões de opositores e outras violações a direitos humanos. Compete ao governo brasileiro pressionar sem confrontar.


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