• Opinião

    Friday, 03-May-2024 03:52:25 -03

    João Ricardo Costa Filho

    Feliz 2020?

    05/01/2016 02h00

    Por mais que se procure, está difícil vislumbrar um horizonte benigno para a economia brasileira. O PIB diminui, o desemprego sobe, a dívida pública cresce e a incerteza faz com que os agentes fiquem inertes.

    Que 2015 foi ruim e 2016 também será pouca gente duvida. A questão agora é: quando a economia voltará a crescer? Em 2017? Talvez, mas alguns fatores podem atrapalhar.

    Depois da contração, 2017 poderia ser o ano da recuperação sustentada. Voltar ao ritmo de crescimento de 2% ao ano não deveria ser tarefa hercúlea, mas, por nossa incapacidade em aumentar a produção, há muita desconfiança.

    Crescer depois da recessão não é lá grande coisa. Crescer sistematicamente, sim. Há risco de que isso só ocorra depois de 2017? No âmbito fiscal, há várias décadas o Brasil vem gestando problemas cujas soluções são postergadas sempre que há o mínimo de crescimento.

    A Constituição de 1988 faz com que o governo tenha pouca margem de manobra sem passar pelo Congresso, onde hoje a hostilidade dos parlamentares ao Executivo bloqueia o chamado "ajuste fiscal". Não conseguimos nem pagar a conta operacional do Estado brasileiro, que dirá os juros da dívida.

    O voto de confiança, o "grau de investimento" por agências internacionais, já perdemos. A consequência é clara -os investidores tiram o capital do país e cobram juros maiores para emprestar ao governo, movimento rápido e contracionista. Com a economia frágil, o solavanco pode ser grande.

    No resto do mundo temos a expectativa de normalização da política monetária norte-americana, aumentando as taxas de juros e atraindo o capital de curto prazo. Regiões como a Zona do Euro e o Japão precisam estimular mais a atividade doméstica.

    O primeiro movimento pode provocar turbulência nos mercados brasileiros; o segundo pode revelar fragilidades globais que tragam incerteza e volatilidade ao país. O mundo se recupera, mas o Brasil não consegue acompanhar.

    Temos também a China, em meio a uma mudança no modelo de crescimento, voltando-se mais ao consumo e crescendo menos. Se a China cair, leva o Brasil junto.

    Em 2018 teremos eleições. Se o governo eleito fizer as reformas necessárias, a política será contracionista em 2019.

    Dessa forma, o crescimento sustentado pode vir apenas em 2020. O que vai acontecer? Não sei.

    Está difícil ser otimista sem que as reformas aconteçam. Mas será que aguentaremos esperar até 2020, com tanta turbulência no Brasil?

    JOÃO RICARDO COSTA FILHO é professor da Faculdade de Economia da FAAP - Fundação Armando Alvares Penteado e associado da Pezco Microanalysis

    *

    PARTICIPAÇÃO

    Para colaborar, basta enviar e-mail para debates@grupofolha.com.br.

    Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024