• Opinião

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    editorial

    Erros e acertos líquidos

    08/01/2016 02h00

    Ninguém há de negar ao governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), o direito de comemorar a incipiente recuperação do sistema Cantareira, que no final do ano passado saiu do famigerado volume morto –água abaixo do nível normal de captação das represas.

    Como o próprio governador lembrou no dia 30 de dezembro, porém, "muito ainda há para ser feito". É que, em tese, tal reserva nem deveria ter sido explorada; seu uso inédito se impôs para evitar um desabastecimento completo diante da seca histórica, e a mera restituição dessa parcela de água não mudará a rotina de milhões de paulistas.

    O aumento de volume no sistema "mostra que estamos no caminho certo", completou Alckmin. Pode ser, mas os erros e as hesitações anteriores contribuíram para tornar a crise tão aguda, como indica recente estudo de pesquisadores da USP e da Unesp.

    Utilizando modelagem matemática, identificaram o mês de janeiro de 2014 como o momento em que o Cantareira sofreu uma "transição catastrófica", deixando de operar em condições normais e passando a um "estado de ineficiência".

    A partir de então, a entrada de água no sistema já não se converte em aumento do nível dos reservatórios, pois é absorvida pelo solo –o chamado "efeito esponja".

    Como se sabe, o governo tomou as primeiras medidas para diminuir a saída de água das represas somente em fevereiro de 2014, quando o estrago já estava feito.

    Agora, todavia, o governo Alckmin tem a oportunidade de agir de forma preventiva em outra frente. À crescente restrição no uso de águas dos mananciais correspondeu uma alta da procura por reservas no subsolo. No ano passado, a concessão de licenças para a perfuração de poços profundos cresceu 77% em relação a 2014.

    A medida traz alívio às represas, mas, se sem controle, provoca o ressecamento dos lençóis freáticos. Isso pode –e deve– ser evitado. O limite de retirada de água é fixado pelo Estado, por meio das relações entre a vazão do poço e a quantidade da reserva estimada.

    Trata-se, portanto, de reforçar a fiscalização para que a retirada não exceda os limites estabelecidos –e para que o governo Alckmin não repita os erros de outrora.

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