• Opinião

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    editorial

    Nova aposta da Sabesp

    22/01/2016 02h00

    O presidente da Sabesp, Jerson Kelman, tem razão no que afirmou em entrevista a esta Folha: não existe certo ou errado na sua decisão de elevar a captação de água no sistema Cantareira. Terá havido um cálculo correto ou incorreto dos riscos, algo que só será possível estabelecer daqui a um ano.

    Ninguém nega –mais que isso: festejam todos– que o nível dos reservatórios da Grande São Paulo tenha subido em ritmo acentuado, graças à normalização das chuvas. Em dezembro, por exemplo, a precipitação sobre o Cantareira ficou 18% acima da média histórica.

    Com isso, a situação do principal reservatório da região metropolitana melhorou de forma acelerada. O volume armazenado chegou nesta semana a 13% do volume útil, condição bem mais confortável que o 0,3% no fim de 2015.

    A direção da Sabesp solicitou à Agência Nacional de Águas (ANA) permissão para elevar a quantidade captada no Cantareira e obteve resposta positiva. Em janeiro, poderá retirar desses reservatórios até 19,5 mil litros por segundo (l/s), contra os 13,5 mil l/s de dezembro (a capacidade máxima de produção é de 33 mil l/s no sistema).

    Segundo Jerson Kelman, mesmo aumentando a captação seria possível chegar ao final deste ano com 5% do volume útil, portanto sem problemas de abastecimento. De fato, a companhia já encolheu os intervalos em que reduz a pressão da água na rede distribuidora, forma dissimulada de racionamento levada a cabo pelo governo de Geraldo Alckmin (PSDB).

    Para Kelman, seria injustificável, agora que há mais água disponível, prolongar o sacrifício imposto aos usuários mais afetados pela redução de pressão, como os que habitam as regiões mais altas da metrópole paulista.

    Na sua avaliação, o abastecimento só voltaria a preocupar a partir de abril de 2017. Mas aí, argumenta, já estariam concluídas as obras para ampliar a capacidade do sistema metropolitano.

    Há dois pressupostos nesse raciocínio. Primeiro, que as obras não sofram mais percalços. Segundo, que não haja novas anomalias climáticas, como as que motivaram tanto as chuvas copiosas de agora quanto a seca de 2014.

    A Sabesp manteve a sobretaxa para quem consumir acima da média, mas dificultou há pouco a obtenção de bônus por quem economizar. Aumentar a retirada de água do Cantareira implicará elevar o consumo e, por consequência, recompor a receita da empresa.

    Beneficiária imediata dessa aposta, a população será sócia majoritária de seus riscos.

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