• Opinião

    Sunday, 05-May-2024 20:10:42 -03

    editorial

    Emergência zika

    02/02/2016 02h00

    Quem ouve ou lê as explicações e justificativas emanadas do Planalto e do Ministério da Saúde sobre a epidemia do vírus da febre zika fica convencido de que o governo federal ainda não se deu conta da gravidade da situação.

    Uma emergência dessas –agora reconhecida em escala planetária pela Organização Mundial da Saúde (OMS)– pede muita informação, coordenação e mobilização. Brasília tem negligenciado as três, ainda que nos últimos dias pareça tomada de hiperatividade.

    Informação é crucial para dar ao surto sua verdadeira dimensão, de modo a combater tanto o alarmismo desnecessário quanto a inércia usual do poder público. Sem conhecimento e comunicação de dados precisos, autoridades federais, estaduais e municipais se perdem na ação desconjuntada, e a população fica à mercê da epidemia.

    Primeiro, os números sobre a relação entre zika e microcefalia. De acordo com o boletim epidemiológico mais recente, notificaram-se, a partir do segundo semestre do ano passado, 4.180 casos de suspeita da malformação, dos quais 3.448 ainda estão sob exame.

    Só 732 investigações foram concluídas, com 462 diagnósticos de microcefalia rejeitados e 270 confirmados (diante da média de 150 ocorrências anuais). Em apenas 6 desses 270 casos a presença do vírus zika pôde ser detectada, mas isso não diz muito, pois a infecção ocorre meses antes de a malformação ser diagnosticada no bebê.

    Toda a dificuldade reside em que não existe teste rápido para confirmar a presença do zika no organismo. Além disso, a microcefalia pode ser causada por outras infecções e condições genéticas.

    Para complicar ainda mais a situação, governos estaduais estão empregando critérios díspares para o diagnóstico de microcefalia –uma falha inimaginável de coordenação do Ministério da Saúde.

    Nada disso justificaria ignorar que está praticamente comprovado que a causa do surto de malformação é o vírus. Como não se deverá obter uma vacina antes de três ou quatro anos, o prioritário agora é combater a ação dos mosquitos transmissores do gênero Aedes.

    É importante lembrar que a população do mosquito já esteve sob controle e que este se perdeu. Antes do flagelo do zika, ele disseminava a dengue, doença que teve em 2015 uma explosão de 1,6 milhão de casos no Brasil, com 863 mortes.

    Uma solução mais duradoura para o problema do Aedes depende da universalização do saneamento, que eliminaria os locais de reprodução de larvas, como lixo e armazenamento inadequado de água. Mas, no ritmo atual, isso demorará ainda quatro décadas

    Sobra, assim, recuar aos métodos consagrados em 1903 por Oswaldo Cruz e suas brigadas de mata-mosquitos. A presidente Dilma Rousseff (PT), contudo, diante da debilidade política e orçamentária em que meteu seu governo, só soube delegar ao Exército a obrigação inadiável de mobilizar o país contra um inimigo conhecido e derrotado mais de um século atrás.

    É muito pouco, na crise atual. Dilma tem de engajar-se pessoalmente em liderar governadores e prefeitos para dar cabo da tarefa.

    editoriais@grupofolha.com.br

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024