• Opinião

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    editorial

    A merenda, de novo

    04/02/2016 02h00

    Em uma repetição nada farsesca da história, o fornecimento de alimentos para escolas do Estado de São Paulo se vê mais uma vez envolto em suspeitas de corrupção.

    Sete anos após se tornar conhecida a chamada máfia da merenda, a Polícia Civil e o Ministério Público investigam um novo esquema de pagamento de propina no setor. Como em tantos outros escândalos, agentes públicos receberiam dinheiro para garantir negócios com o Estado –no mais das vezes, contratos superfaturados.

    Deflagrada no dia 19 de janeiro, a Operação Alba Branca prendeu seis dirigentes da Cooperativa Orgânica Agrícola Familiar (Coaf), na cidade de Bebedouro (perto de Ribeirão Preto). Em depoimento, os funcionários afirmaram que o esquema envolvia 22 cidades e a Secretaria da Educação do Estado.

    De acordo com eles, beneficiaram-se das fraudes os deputados federais Baleia Rossi (PMDB) e Nelson Marquezelli (PTB) e os deputados estaduais Luiz Carlos Gondim (Solidariedade) e Fernando Capez (PSDB), presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo.

    As investigações também atingem figuras do governo Geraldo Alckmin (PSDB). Foram citados Duarte Nogueira, secretário de Transportes e ex-líder do PSDB na Câmara dos Deputados, Fernando Padula e Luiz Roberto dos Santos, até dias atrás chefes de gabinete da Educação e da Casa Civil, respectivamente (ambos já exonerados).

    Os personagens refutam participação no caso, mas os indícios contra Santos e Padula, por exemplo, não se restringem aos depoimentos. O primeiro foi flagrado em conversas telefônicas comprometedoras, e nelas houve menções explícitas ao nome do segundo.

    Um episódio relatado por Cássio Chebabi, ex-presidente da Coaf, reforça as suspeitas. Ele diz que, em 2013, após a cooperativa vencer chamada pública de R$ 8 milhões para fornecer suco de laranja a escolas paulistas, o contrato foi cancelado sem maiores explicações.

    Em seguida, um lobista que se apresentava como representante do deputado Fernando Capez teria acenado com a possibilidade de destravar o contrato em troca de propina. Oferta aceita, a Coaf venceu a nova chamada pública realizada meses depois.

    A Secretaria da Educação não explica o cancelamento da primeira chamada, o que apenas alimenta a desconfiança em torno do assunto.

    As apurações ainda são incipientes, mas não será surpresa se elas revelarem um esquema de desvios para abastecer campanhas eleitorais –e o governador Geraldo Alckmin, que pretende disputar a Presidência em 2018, precisará lidar com um escândalo de corrupção em seu próprio quintal.

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