• Opinião

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    Candinho Neto

    Prefeitura deve restringir horário e tamanho dos blocos de Carnaval? Não

    06/02/2016 02h00

    INIBINDO O FOLIÃO

    Quem pode represar a vontade popular de se divertir no Carnaval? Pois bem, parece-nos evidente que os grandes eventos, os que reúnem milhares de pessoas nas ruas, sofrem uma dura repressão, camuflada nos discursos oficiais pelo rótulo de "vigia governamental".

    No caso do Carnaval de rua de São Paulo, há no momento um impasse. A prefeitura, capitaneada pela Secretaria de Cultura, proporcionou a partir do Carnaval de 2013 uma feliz onda de alegria nas ruas paulistanas. É preciso reconhecer, entretanto, que em alguns pontos da cidade, especialmente na Vila Madalena, a festa saiu do controle, beirando mesmo o caos urbano.

    As autoridades públicas de segurança foram então acionadas, na tentativa de normalizar a situação.

    O decreto lei municipal deste ano determina locais, horários e outras imposições para coibir a baderna. Por um lado, a resolução traz mais segurança ao cidadão comum paulistano que não participa da festa. Por outro, inibe o folião de extravasar todo seu combustível carnavalesco de forma espontânea.

    Há em curso no mundo um tentativa de regular todas as atividades humanas, mesmo as mais básicas. Agora até o horário para divertir-se no Carnaval de rua de São Paulo é controlado pelas autoridades. Isso, é óbvio, retira a espontaneidade da maior festa popular do mundo.

    A alegria geral está amortizada, até mesmo pela necessidade legítima de coibir os exageros, praticados, é importante destacar, não pela maioria que busca apenas diversão, mas por alguns poucos indivíduos inoportunos ao extremo.

    O Carnaval de rua de São Paulo tem agora duas vertentes. De um lado, temos as agremiações pioneiras comandadas pela Abasp (Associação das Bandas Carnavalescas de São Paulo), composta por 12 associações consolidadas pela lei do Carnaval de São Paulo (nº 10.831/90).

    Esses grupos sobreviveram ao chamado "Carnaval da resistência", fase em que a folia foi abandonada pelas autoridades e pela própria população, que via na festa momesca algo desprezível.

    De outro lado, vimos, perplexos, a invasão industrializada de blocos carnavalescos cariocas em terras paulistanas. Eles atraem multidões, é verdade, mas estão longe das brincadeiras carnavalescas de Braguinha, Joel de Almeida, Lamartine Babo, Zé Keti e tantos outros. Em geral, fazem apenas uma ensurdecedora barulheira em algum ponto determinado pela prefeitura.

    Diante dessa profusão de confetes e serpentinas espalhados pela cidade, atraindo milhares de foliões e formando um público novo para as festas de rua, medidas e ações são tomadas à revelia das pessoas de fato envolvidas na organização.

    Qual o melhor caminho para que a alegria não se transforme em tristeza e desordem? Qual direção devemos seguir?

    A discussão é urgente, e nós da Abasp esperamos participar da construção de um Carnaval pautado pela ordem que se faz necessária, mas sem descaracterizá-lo.

    Que o Carnaval de rua siga democrático, nostálgico, animado, colorido, sempre promovendo a diversidade. Enfim, que se mantenha vivo.

    CANDINHO NETO, jornalista e carnavalesco, é Presidente da Abasp "" Associação das Bandas Carnavalescas de São Paulo

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