• Opinião

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    Thais Bilenky: Passado presente

    06/02/2016 02h00

    Os republicanos se digladiam pelo título de candidato que melhor reviverá o liberalismo de Ronald Reagan. Os democratas duelam pela posição de o progressista mais coerente. A retórica eleitoral da campanha deste ano nos Estados Unidos inclui estranhas menções ao passado.

    O momento econômico do país aponta para uma recuperação da crise de 2008, mas não promete a mesma potência de antes.

    Naquele ano, Barack Obama era uma promessa de mudança. O simbolismo de eleger o primeiro presidente negro dos Estados Unidos sugeria um recomeço da democracia americana.

    No último ano de seu governo, parcelas à esquerda se dizem frustradas, parcelas à direita mantêm os ataques, e a população está mais polarizada politicamente do que no primeiro.

    Para ocupar a Casa Branca, os pré-candidatos até agora não tiveram propriamente um estalo de futuro.

    Do lado democrata, o senador Bernie Sanders, que tenta ganhar a nomeação de Hillary Clinton, está confortável com o rótulo de socialista.

    Quando lançou sua campanha, menos de um ano atrás, era visto com ceticismo, para não dizer que era ridicularizado, pela classe política de Washington pelas bandeiras "esquerdistas demais".

    Sanders era cuidadoso, prometia explicar o que é socialismo para a população treinada a associá-lo a um modelo a ser combatido na Guerra Fria. Conquistou, com folga, o eleitorado nascido depois disso.

    Depois do bom desempenho em Iowa nesta semana, o senador passou a atacar a oponente por sua falta de convicção. Nos meses em que Sanders precisava acrescentar um "democrata" quando chamado de "socialista", Hillary dizia ser uma moderada orgulhosa. Agora, faz de tudo para acreditarem que ela é a "progressista que faz as coisas acontecerem".

    Os principais nomes na disputa republicana, por sua vez, evocam Ronald Reagan na promessa de um novo impulso para o país. Donald Trump e Ted Cruz advogam terem a capacidade do ex-presidente para comandar uma retomada do crescimento e reunificar a população. Só não dizem que a "população", no caso, é exclusivamente o seu eleitorado.

    Trump, por sinal, copiou o slogan de campanha de Reagan, "faça a América grandiosa outra vez". Cruz o citou, entre outros, no discurso de vitória no caucus de Iowa –"a manhã está chegando".

    É extemporâneo vender a receita de crescimento dos anos 1980 como futuro dos EUA. Além de repetitivo. Reagan foi usado como modelo de candidatos republicanos ao longo de toda a última década.

    De tudo que há de inusitado nesta campanha, mesmo a noção de passado surpreende.

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