• Opinião

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    Pedaladas nas creches

    editorial

    10/02/2016 02h00

    Governantes costumam justificar a própria verborragia -quando não milhões desperdiçados em publicidade oficial- como obrigação de prestar contas ao cidadão. Mas nenhum deles resiste a embelezar os números de suas realizações.

    O prefeito Fernando Haddad (PT) e seu secretário de Educação, Gabriel Chalita (PMDB), têm lugar garantido nessa velha escola. Enrascados na promessa do petista de criar 150 mil vagas em creches e pré-escolas, recorrem agora à contabilidade criativa.

    Chalita afirmou, semanas atrás, que a prefeitura criara só em 2015 um total de 50 mil vagas. Dias antes, Haddad dissera ter aberto 90 mil vagas de educação infantil, "recorde da história da cidade".

    Reportagem desta Folha publicada na segunda-feira (8), todavia, revela dados oficiais que caracterizam bem outro desempenho -não exatamente ruim, mas diferente, e decerto aquém tanto do prometido como do propagandeado.

    Relatórios da própria Secretaria Municipal de Educação indicam um total de 34,8 mil novas matrículas em 2015. Vale dizer, a cifra real de crianças que passaram a ser atendidas é 30% menor que a trombeteada por Chalita.

    Ainda segundo esses levantamentos publicados pela secretaria, o número de matrículas cresceu 67,9 mil de dezembro de 2012, último ano da administração de Gilberto Kassab (PSD), a dezembro de 2015. Uma cifra distante dos 90 mil alardeados por Haddad, com uma divergência de 22 mil crianças.

    Parte dessas discrepâncias se explica pelo fato de a secretaria e a prefeitura computarem em seus anúncios a cifra de "vagas garantidas", ou seja, em creches já construídas ou já contratadas no setor privado. Dado que a demanda reprimida por educação infantil ainda deixa fora da escola 75,2 mil crianças, pode-se mesmo dar por certo que as vagas serão ocupadas.

    Fato é que, no momento da divulgação, elas ainda não estavam preenchidas. Uma comunicação mais precisa e fiel se limitaria a apresentar o que existe, apenas, e não poria o carro diante dos bois.

    Haddad incluiu 67,9 mil crianças em creches e pré-escolas e diminuiu a fila de espera de 93,8 mil para 75,2 mil carentes, isso numa época em que a economia soçobrou e as verbas federais encolheram.

    Não é pouco, mas é menos do que prometeu quando já estava patente que a política econômica da presidente Dilma Rousseff (PT) era insustentável. Cabe a ele, sim, prestar contas disso, e sem manobras pueris com os números.


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