• Opinião

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    editorial

    Desconfiança global

    12/02/2016 02h00

    Aos temores desencadeados pela desaceleração da China e pelas dúvidas acerca da saúde financeira de países emergentes veio se juntar uma nova fonte de preocupação para os mercados globais.

    Despencaram, nos últimos dias, os preços das ações dos principais bancos do mundo rico, e a isso se seguiram especulações sobre a estabilidade da economia mundial.

    Reaparecem alguns dos fantasmas da crise financeira de 2008 e 2009, que devastou o capital de instituições financeiras após perdas gigantescas com as hipotecas. Uma recidiva ocorreu em 2012, quando o mundo temia o colapso do euro e, com ele, dos grandes bancos europeus, que sofreriam calotes de países e empresas da periferia.

    Tais eventos travaram os canais de expansão de crédito, mecanismo essencial para o crescimento econômico. Não por acaso, a recuperação das instituições financeiras ocupou lugar central na estratégia de combate à crise.

    Esse conserto tem sido tentado de duas formas. Primeiro, as autoridades obrigaram os bancos a realizar novas captações de recursos no mercado, reforçando seu capital disponível para absorver perdas com novos empréstimos.

    Além disso, os bancos centrais mantiveram em zero os juros de curto prazo nos últimos anos. Isso ajuda as instituições financeiras, que obtêm recursos pagando muito pouco e os emprestam por prazos mais longos com taxas mais altas, reforçando seus lucros.

    As medidas geraram bons resultados. Observaram-se, nos EUA e na Europa, expansão do crédito e retomada do crescimento, com consequente redução gradual do desemprego. O Fed (banco central americano) sentiu-se seguro a ponto de subir os juros em dezembro, a primeira alta em quase uma década.

    Ocorre, porém, que os sinais de desaceleração, que até agora estavam localizados em países emergentes afetados por excesso de dívidas e pela queda nos preços de matérias-primas, começam a surgir também nos EUA e na Europa.

    Analistas já consideram a possibilidade de o Fed ter cometido um erro na decisão tomada no final do ano passado. Adotando caminho oposto ao seguido pela autoridade monetária dos EUA, outros bancos centrais mantêm juros baixos a fim de estimular a circulação de dinheiro na praça.

    Em vários países, as taxas já entraram em terreno negativo, sinal de renovada tendência de deflação de preços e salários. Nesse cenário, haveria nova retração de crédito e prejuízo para os bancos. Daí a súbita queda de suas ações.

    Embora os riscos sejam elevados, os dados mais recentes não comprovam um quadro de recessão no mundo rico. Resta saber se os mercados estão se antecipando à realidade ou se afastando dela.

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