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    editorial

    Um novo Universo

    13/02/2016 02h00

    Cientistas anunciaram na quinta-feira (11) um feito que se candidata a ser um dos mais importantes da história da física.

    Após um século de especulações, 50 anos de tentativas e erros e 25 de aperfeiçoamento de um dos instrumentos mais precisos jamais produzidos pela humanidade, finalmente foram detectadas as chamadas ondas gravitacionais.

    Não é exagero dizer que os cientistas ganharam um novo órgão dos sentidos. Há 400 anos, a invenção do telescópio lhes deu olhos para enxergar em detalhes objetos longínquos; agora, a capacidade de perceber ondas gravitacionais lhes dá ouvidos com ainda maior acuidade –e o Universo poderá ser explorado de forma inédita.

    Previstas pelo físico Albert Einstein (1879-1955) há cem anos, essas ondas são perturbações no tecido do que os físicos conhecem por espaço-tempo. Grosso modo, tudo se passa como as oscilações na superfície de um lago, produzidas pelo impacto de uma pedra.

    Embora todos os corpos deformem o espaço-tempo, as ondas gravitacionais se propagam somente em condições específicas. Foi o caso do processo de colisão de dois buracos negros, cada um com massa cerca de 30 vezes maior que a do Sol, ocorrida há 1,3 bilhão de anos e noticiada nesta semana.

    A detecção direta dessas ondas restava como a última das grandes predições da Teoria da Relatividade Geral ainda a ser provada –e não faltaram esforços para tanto.

    Remontam à década de 1960 as primeiras tentativas de captar o fenômeno. Por duas vezes, uma há meio século e outra em 2014, erros no processamento dos dados levaram cientistas a soar alarmes falsos.

    Para garantir que não incorreriam no mesmo engano, desta vez mais de mil pesquisadores passaram meses dissecando as informações coletadas. Falta, naturalmente, a replicação dos resultados pela comunidade científica, mas, neste caso específico, essa etapa parece apenas protocolar.

    O detector utilizado –Ligo, ou Laser Interferometer Gravitational-Wave Observatory– começou a ser concebido no início dos anos 1990 e constitui uma das maiores realizações tecnológicas da história.

    Sua sensibilidade extraordinária permite medir oscilações causadas por ondas gravitacionais da ordem de um décimo de milésimo do diâmetro de um próton, uma partícula subatômica invisível ao mais potente microscópio.

    Com a nova tecnologia, descortina-se um novo mundo, assim como o céu se ofereceu para Galileu após os avanços com o telescópio.

    Fenômenos até então ocultos tornam-se enfim passíveis de investigação direta. O arco de possibilidades inclui o próprio início do Universo, evento que os instrumentos até hoje existentes não conseguiam perscrutar.

    Abre-se uma nova porta, portanto, e os cientistas não hesitarão em atravessá-la.

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