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    Editorial

    Dilemas tucanos

    15/02/2016 02h00

    Todo partido importante oscila entre dois polos. De um lado, cabe-lhe firmar a própria identidade. De outro, preparar-se para exercer o poder. Entre seus adeptos, o dilema se traduz, conforme o perfil de cada sigla, na polaridade entre radicalização e governabilidade.

    Em nenhum partido, provavelmente, essa escolha se apresenta tão dramática quanto no PSDB. Ninguém há de negar, na mentalidade de seus principais líderes, o gosto pelo realismo administrativo, pela sensatez política, pelo meio-termo ideológico.

    Ao mesmo tempo, o eleitorado de oposição tende, cada vez mais, a atitudes extremas: a bandeira do impeachment possui, na militância tucana, um prestígio que seus líderes não estão propriamente felizes em compartilhar.

    Prosseguem, evidentemente, na batalha judicial que contesta a lisura da eleição de Dilma Rousseff (PT). Enquanto a causa é examinada no Tribunal Superior Eleitoral e os sucessivos escândalos envolvendo o PT acendem a indignação e a incredulidade da opinião pública, o mundo apartidário da economia e do Orçamento continua a dar seus próprios sinais de alarme.

    Não deixa de ser bem-vinda, portanto, a disposição do novo líder do PSDB na Câmara dos Deputados, Antonio Imbassahy (BA).

    O peessedebista diz-se pronto a admitir erros cometidos no ano passado. Entre outros, decerto pensa na votação pela derrubada do fator previdenciário, uma iniciativa criada no governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB).

    De fato, o PSDB tem investido menos na coerência doutrinária do que no esforço de inviabilizar a administração petista. Por gigantescos que tenham sido os erros de Dilma, qualquer tentativa de corrigi-los deve ser vista com bons olhos.

    Derrubar o seu governo –uma possibilidade que depende de novas revelações e reforço nos escândalos– é menos importante, no momento, do que enfrentar a crise que Dilma criou. A presidente, em suas últimas manifestações, parece consciente dos problemas que sua mendaz campanha eleitoral insistiu em disfarçar.

    Pode não ser justo, do ponto de vista doutrinário, apoiar medidas que o petismo sempre renegou.

    A alternativa seria pior. Um PSDB sectário e irracional, como o que se tem visto nas últimas decisões parlamentares, pode atender à ira de seus militantes. Não se qualifica, todavia, como opção razoável de poder.

    A mentira, na política, pode ter rápido sucesso. Nada mais equivocado, a longo prazo, do que um partido aparentar o que não é. O PT paga por isso. O PSDB tem enveredado pelo mesmo caminho –mas indica disposição de mudar.

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