• Opinião

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    editorial

    Acordo frágil

    16/02/2016 02h00

    Reunidos na cidade de Munique (Alemanha), representantes das potências anunciaram na última quinta-feira (11) um acordo para suspender as hostilidades na Síria e permitir que a ajuda humanitária chegue às áreas sitiadas do país.

    A iniciativa, programada para entrar em vigor nesta semana, marca um entendimento inédito entre Estados Unidos e Rússia –enquanto os norte-americanos insistem na deposição do ditador Bashar al-Assad, os russos buscam manter no poder seu maior aliado no Oriente Médio.

    Mais importante, o acordo, se realmente for implementado, levará à primeira interrupção dos combates desde 2011. Trata-se de uma trégua mais do que necessária.

    Os quase cinco anos de guerra provocaram a maior catástrofe humanitária deste século, causando a morte de quase 500 mil pessoas.

    A destruição de cidades inteiras e a perseguição nas áreas controladas por facções extremistas levaram cerca de 13 milhões de pessoas –cerca de dois terços da população síria– a deixar suas casas. Já se aproxima de 5 milhões o número das que buscam abrigo em outros países.

    A economia síria entrou em colapso, tendo encolhido, estima-se, cerca de 50% desde 2011, e a expectativa de vida baixou de 70 para 55,4 anos de 2010 a 2015.

    As diversas lacunas do compromisso recém-acertado, porém, recomendam moderar o otimismo com relação à iniciativa.

    Em primeiro lugar, as discussões não incluíram facções radicais, como Estado Islâmico (EI) e Jabhat al-Nusra, que controlam largas porções do território sírio.

    Não está claro, ademais, se o pacto envolve todos os grupos rebeldes que lutam contra Assad nem qual será o comprometimento da milícia libanesa Hizbullah e dos combatentes iranianos que hoje defendem seu governo.

    Por fim, há dúvidas sobre se os ataques aéreos russos –em tese parte da luta contra o EI, mas que também atingem a oposição a Assad– serão interrompidos.

    Tudo leva a crer, portanto, é improvável que o ensaio de cessar-fogo leve ao fim imediato da violência no território sírio.

    Na melhor das hipóteses, pode se transformar num primeiro passo na longa estrada para a paz. Nem isso, entretanto, está garantido.

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