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    editorial

    A alma do negócio

    24/02/2016 02h00

    Entre os mais de cem presos nos dois anos da Operação Lava Jato, da Polícia Federal, o publicitário João Santana é, certamente, o mais próximo à presidente Dilma Rousseff (PT).

    Conselheiro informal e frequente da petista, esteve à frente das três últimas campanhas do partido ao Planalto. Na mais recente delas, imprimiu sua marca mais memorável e controversa –a propaganda de pronunciado tom ideológico com que Dilma demonizou, e associou a seus adversários, o ajuste econômico que hoje leva a cabo.

    Conforme a PF, Santana recebeu no exterior, irregularmente, US$ 7,5 milhões (cerca de R$ 30 milhões, pela cotação atual), entre 2012 e 2014, de firmas ligadas à construtora Odebrecht e a um lobista de nome Zwi Skornicki, alvos das investigações sobre o pagamento de propinas com verba surrupiada dos cofres da Petrobras.

    Para a polícia, há "forte probabilidade" de que os pagamentos guardem relação com serviços prestados ao PT; para o juiz Sergio Moro, há "fundada suspeita" de que o dinheiro tenha sido extraído dos contratos superfaturados da gigante estatal.

    Os termos aspeados assinalam que resta distância considerável entre os fatos conhecidos e uma prova suficiente para, como pretende a oposição tucana, definir o processo que pede a cassação de Dilma na Justiça Eleitoral.

    Quatro ações movidas pelo PSDB acusam a chapa dilmista de ter se valido de poder político e econômico abusivo, captação e gasto ilícito de recursos. Por óbvio, tais teses ganhariam reforço decisivo com a eventual descoberta de que o petrolão auxiliou a candidatura.

    Santana, ao que se indica, negará vínculo entre o dinheiro recebido –desde bem antes da reeleição da presidente– e sua atividade doméstica. Ele amealhou, dentro da lei, espantosos R$ 88,9 milhões do PT pela empreitada de 2014 e comandou campanhas presidenciais em outros cinco países.

    Haverá explicações mais difíceis, como para os pagamentos feitos por um lobista radicado no Rio; será recordado o precedente de seu antecessor, Duda Mendonça, que admitiu caixa dois na eleição de Lula em 2002; sobre Dilma paira ainda o conteúdo ora desconhecido de delações premiadas colhidas pela Lava Jato.

    Vai além de formalismos jurídicos, ademais, a corrosão que ameaça o mandato da presidente. Os humores da política e da rua são afetados pelo acúmulo de crises e suspeitas que compõem o quadro de um governo prisioneiro das escolhas erradas do passado.

    Se é de imagem que se trata, a do marqueteiro do engodo eleitoral atrás das grades é poderosa.


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