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    editorial

    Expectativas

    03/04/2016 02h00

    Os investidores do mercado financeiro comportam-se como se antevissem mudança próxima nos rumos da economia.

    Desde fevereiro, baixam as taxas de juros de mercado e as medidas do risco de investir no país. A moeda brasileira valoriza-se, assim como sobe o preço das ações.

    Em parte, tal mudança se deve à melhoria das condições externas. Em parte, o relativo otimismo expresso pela valorização dos ativos financeiros foi provocado pela probabilidade maior de reformas e ajustes. Em português claro, espera-se um governo comprometido com a reconstrução econômica.

    Na vida real do trabalho, das empresas, do crédito e das contas públicas, no entanto, verifica-se degradação contínua, quando não acelerada. A receita federal de impostos diminui; dívida e deficit públicos crescem sem limite, deterioração acentuada pela decisão recente do governo de gastar mais.

    A quantidade de empréstimos bancários encolhe em ritmo acelerado, assim como o número de pessoas empregadas e seus rendimentos médios. O nível de confiança de empresários e consumidores praticamente se estabilizou, mas em patamar de colapso.

    Um sinal de luz tênue apareceu, ainda bruxuleante, nas expectativas de inflação, que recuam há algumas semanas. A recessão profunda das vendas contém reajustes de alguns preços e salários. O dólar mais barato contribui para segurar os índices. Torna-se possível que o Banco Central reduza os juros a partir do segundo semestre.

    Não houve, todavia, alteração no cenário para a economia real. Estima-se que o país padecerá de uma recessão tão grande quanto a do ano passado, em torno de 4%.

    A expectativa positiva vista na finança decerto tem efeitos positivos imediatos, embora menores: na taxa de câmbio, na inflação, talvez nos juros. A confirmação dessas esperanças pode fazer com que se antecipe também a retomada dos investimentos produtivos.

    O cenário virtuoso, porém, depende da existência de um governo estável, que não venha a ser colhido pela avalanche judicial, capaz de formar uma coalizão comprometida com reformas econômicas, de dosar socialmente a mudança e de apaziguar ânimos políticos.

    Essas são precondições apenas para a estabilização, não para a retomada do crescimento.

    A reversão das esperanças de transformação, contudo -seja qual for o governo-, vai desfazer os tênues fatores de alívio, deteriorando outra vez as condições financeiras, atrasando ainda mais a recuperação e contaminando 2017. Em vez de estabilidade, haveria o mergulho perigoso e sombrio em um terceiro ano de recessão.

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