• Opinião

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    editorial

    Presidência anômala

    20/04/2016 02h00

    Não começou bem a fase senatorial do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT) autorizado pela Câmara.

    O próprio presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), descreveu como "um horror" a reunião de líderes nesta terça-feira (19) sobre a comissão especial cujo parecer será votado pelo plenário.

    Renan mantivera encontro a portas fechadas com Dilma no dia anterior. Seja para cumprir algum acordo sub-reptício, seja para se diferenciar do temerário Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da Câmara, o senador alagoano resolveu não dar sequência imediata aos trâmites do impeachment.

    Os líderes terão até a noite de sexta-feira (22) para indicar os integrantes da comissão, o que posterga a primeira sessão do grupo para a outra semana. O rito prevê até dez dias para deliberações.

    A decisão do plenário do Senado sobre o afastamento de Dilma ficaria então para 17 de maio, um mês depois de dada a autorização pela Câmara. É tempo demais.

    No impedimento de Fernando Collor, em 1992, os deputados votaram em 29 de setembro. O Senado afastou o presidente de forma temporária no dia 2 de outubro, quando Itamar Franco assumiu o cargo.

    Se hoje não sobra espaço para igual celeridade, visto que não há a mesma unanimidade que se formou à época de Collor, tampouco se admite procrastinação, que só importa ao PT, à presidente e aos seus aliados. Ao país interessa que o impasse se resolva tão logo quanto possível, respeitado o devido processo legal.

    Cada dia que passa é um dia a mais de atraso na adoção de medidas imprescindíveis para começar a sair do abismo econômico em que o calamitoso governo Dilma nos projetou. E um dia a mais para o debate público envenenar-se com impropérios e farisaísmo.

    A presidente se permitiu afirmar a jornalistas estrangeiros que o processo em curso representa uma "fraude jurídica e política".

    Se tivesse mais apreço pela verdade e pela imagem do país, poderia lançar suspeitas contra muitos deputados e questionar suas motivações, mas jamais difundir a falácia de que as instituições nacionais se acham violentadas. Todo o roteiro seguido até aqui foi acompanhado pelo Supremo Tribunal Federal, e em nenhum momento houve desrespeito à Constituição.

    O vice-presidente Michel Temer (PMDB) não se sai muito melhor, mesmo recorrendo a retórica mais melíflua. Disse que aguardará a decisão do Senado "muito silenciosa e respeitosamente", coisa que até agora não foi capaz de fazer.

    Basta mencionar a sucessão de episódios canhestros que Temer protagonizou, da carta lamuriosa de rompimento com Dilma ao discurso pós-impeachment supostamente vazado por aplicativo de celular, passando pelo sorriso festivo diante da TV que transmitia a votação do impeachment na Câmara.

    Mais que insuportável, é imprudente prolongar essa anomalia: o Brasil tem hoje dois presidentes e, de fato, não tem nenhum.

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