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    editorial

    Sombras sobre Temer

    23/04/2016 02h00

    Confirmando-se, a cada dia, as extremas dificuldades da presidente Dilma Rousseff (PT) para sustentar-se no cargo, é natural que toda a atenção do meio político se volte para a figura de seu sucessor.

    Não são apenas as especulações em torno de eventuais ministros de Michel Temer o foco do noticiário. A crise ética que teve parte preponderante na derrocada do PT se estende aos seus aliados de ontem, e o PMDB, como se sabe, mostra-se igualmente envolvido nas investigações da Lava Jato.

    É sobre o próprio vice-presidente, contudo, que novas e antigas suspeitas se veiculam. Sempre importa lembrar que, baseadas por ora em declarações obtidas pelo instituto de delação premiada, servem como meios para apuração posterior, e não como provas de qualquer irregularidade.

    Mesmo assim, acumulam-se os indícios sobre os quais Temer haverá de prestar esclarecimentos.

    Reportagem publicada na revista "Época" cita depoimento de um dos donos da construtora Engevix, preso em setembro por irregularidades descobertas pela Lava Jato.

    José Antunes Sobrinho afirma ter sido pressionado a pagar R$ 1 milhão para a campanha de Temer em 2014. O peemedebista nega ter recebido recursos ilícitos.

    Não se trata do único caso. A própria delação premiada de Delcídio do Amaral (sem partido-MS), ex-líder do governo no Senado –documento importante na constituição de todo o clima favorável ao impeachment de Dilma–, menciona o vice-presidente como padrinho na indicação de diretores da Petrobras hoje acusados de corrupção.

    Em mensagem no celular, um dos sócios da construtora OAS, Leo Pinheiro, cita Temer como beneficiário de um pagamento de R$ 5 milhões; considera-se, aliás, que o favorecimento teria despertado o inconformismo de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que se julgou preterido na distribuição das propinas.

    A linha de defesa de Temer não difere da adotada por diversos petistas surpreendidos em acusações do mesmo tipo: sua campanha recebeu doações legais. O problema, afirma o Ministério Público Federal, é que a aparência de legalidade encobriria pagamentos oriundos de desvios em obras do governo.

    Ainda que nenhuma dessas suspeitas se confirme, é inegável que um eventual governo Temer, por mais desafogo que confira ao ambiente econômico, estará longe de representar a solução para a crise.

    Talvez Temer se sinta tentado a interferir no rumo das investigações, bloqueando eventual fonte de deslegitimação. Mas ele sabe que não pode fazer isso: o apoio à Lava Jato assumiu tal força que qualquer intromissão indevida corresponderia a um suicídio político.

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