• Opinião

    Sunday, 05-May-2024 06:18:30 -03

    Editorial

    Juros sustentáveis

    02/05/2016 02h00

    Apesar de ter decidido por unanimidade manter a taxa básica de juros (Selic) em 14,25% ao ano, o Comitê de Política Monetária do Banco Central identificou fatores positivos para o combate à inflação.
    Diminuiu, por exemplo, a pressão exercida pelo ajuste de tarifas públicas represadas em anos anteriores, como energia. Se em 2014 os preços administrados subiram 18%, sustentando a inércia inflacionária, a expectativa para este ano é de alta próxima a 6%.

    Reduziu-se, além disso, o risco de desvalorização abrupta do real, o que ajuda a conter o encarecimento de produtos importados ou sujeitos à concorrência internacional.

    Finalmente, a falta de demanda na economia começou a quebrar a espiral de alta dos serviços, sempre o componente mais resistente.

    O BC optou por não agir por enquanto, até porque uma troca de comando é provável nas próximas semanas. Chamou a atenção para o nível ainda alto das expectativas para 2017 -a média dos analistas projeta inflação de 5,8%. Nas condições atuais, porém, logo haverá convergência para a meta de 4,5%.

    Se a conjuntura sugere que logo a taxa Selic começará a cair, ainda falta realizar ajuste profundo nas contas públicas, a fim de que os juros atinjam patamares civilizados de modo duradouro.

    Colocar um freio no crescimento explosivo da dívida não será fácil, já que o rombo em 12 meses chega a R$ 136 bilhões (2,3% do PIB). Trata-se do maior desafio econômico do novo governo que, tudo indica, assumirá o país em maio.

    A estratégia será realizar reformas que reforcem a credibilidade de longo prazo, especialmente na Previdência, hoje a maior conta em aberto do setor público.

    Fundamental que esse esforço tenha sucesso e possibilite o corte sustentado dos juros, a fim de que se amenize o risco de quebra generalizada de empresas asfixiadas pelo torniquete de crédito.

    Dados recentes apontam para sensível queda dos empréstimos. Muitas empresas só não vão à falência porque os bancos têm preferido renegociar as dívidas. Mesmo assim, a inadimplência disparou. Chegou a 4,9% em março para pessoas jurídicas, a maior da série histórica. O risco para a saúde do sistema financeiro é claro, especialmente no caso dos bancos públicos, que embarcaram na farra de crédito dos últimos anos.

    Se permanece o quadro de terra arrasada na economia, ao menos se abre pela primeira vez em muitos anos uma oportunidade para alterar de forma relevante o perfil da política econômica. A contrapartida da austeridade orçamentária precisa -e pode- ser juros de um dígito. Desta vez, entretanto, alcançados de forma sustentável.

    editoriais@grupofolha.com.br

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024