• Opinião

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    Venezuela no escuro

    DE SÃO PAULO

    02/05/2016 02h00

    Ganha corpo na Venezuela a iniciativa da oposição de abreviar o mandato do presidente do país, Nicolás Maduro.

    Na quinta-feira (28), membros da Mesa da Unidade Democrática anunciaram ter obtido número de assinaturas suficiente para dar início ao processo de convocação de um referendo revogatório do mandato do sucessor de Hugo Chávez.

    Para isso, segundo o Conselho Nacional Eleitoral (CNE), é preciso o apoio de 195,7 mil venezuelanos, ou 1% do eleitorado. Em somente dois dias, foram coletadas cerca de 1,1 milhão de firmas.

    Elas serão agora enviadas para o órgão eleitoral, que verificará as assinaturas em até 15 dias. Se o documento for aprovado, a oposição terá um mês para recolher firmas de pelo menos 20% do eleitorado do país, ou 3,9 milhões de pessoas.

    Após nova análise, o CNE tem 90 dias para convocar o referendo. A prevalecer esse cronograma, a votação ocorrerá no próximo semestre. Isso, claro, se o processo transcorrer normalmente. O chavismo, no entanto, já deu fartas demonstrações de que não se importa em corromper instituições para se segurar no poder.

    Se depender apenas do apoio da população, é certo que o referendo ocorrerá. Pesquisa realizada na última semana mostrou que 60,3% dos venezuelanos são favoráveis ao uso do mecanismo para encurtar o governo de Maduro.

    O elevado percentual não surpreende, já que o país mergulhou no caos nos últimos anos. O mais recente efeito do desarranjo venezuelano é a gravíssima crise energética que assola o território.

    A situação chegou ao ponto de Maduro determinar que a semana laboral do setor público seja reduzida provisoriamente para dois dias, a fim de poupar eletricidade.

    As escolas do ensino fundamental e médio deixarão por ora de funcionar às sextas. Iniciou-se, ademais, um programa de cortes no fornecimento em praticamente todo o país pelos próximos 40 dias.

    Enquanto o chavismo culpa "atos de sabotagem da oposição" e o fenômeno climático El Niño pela escassez de energia, especialistas apontam a falta de investimentos em infraestrutura como a principal responsável pela crise.

    As medidas impostas por Maduro, de todo modo, acrescentam mais um tormento para a população, que enfrenta aguda recessão, inflação descontrolada, escassez de produtos, racionamento de água e índices altíssimos de violência.

    Essa catastrófica combinação torna a permanência de Nicolás Maduro à frente da Venezuela mais improvável a cada dia.

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