• Opinião

    Saturday, 04-May-2024 16:35:28 -03

    editorial

    Os EUA de Trump

    06/05/2016 02h00

    As prévias no Estado de Indiana revelaram-se decisivas para a corrida interna do Partido Republicano à Presidência dos Estados Unidos. Após mais uma vitória, o magnata Donald Trump viu seus dois últimos adversários deixarem o páreo, tornando-se nesta semana o virtual candidato da agremiação para o pleito de novembro.

    Neófito na política, o empresário ególatra foi visto inicialmente como piada, mas, contra todas as expectativas —inclusive de seu partido—, mostrou força ao conquistar mais da metade dos delegados até agora disputados.

    O sucesso de Trump está estreitamente ligado à desilusão de parcela expressiva do eleitorado norte-americano, sobretudo da classe média trabalhadora. As seguidas promessas de melhoria de vida para quem perdeu emprego, casa e economias com a crise de 2007-2008 até hoje não se cumpriram.

    Com uma mensagem simples —fazer a América grande novamente—, o magnata conseguiu vocalizar medos, angústias e desejos desse eleitorado frustrado, partindo da ideia de que seu país tem sido passado para trás tanto por rivais como por aliados.

    Fez isso, lamentavelmente, com um discurso em que se misturam xenofobia, demagogia e populismo.

    O pouco que se conhece de suas propostas perfaz um conjunto entre o caricato e o absurdo. Defendeu, por exemplo, a construção de um muro na fronteira entre os EUA e o México; e este, de acordo com sua visão, seria obrigado a bancar os custos da construção.

    Propôs, além disso, expulsar todos os imigrantes ilegais e proibir a entrada de muçulmanos no país.

    Afirmou que os grandes acordos de livre-comércio assinados pelos EUA roubaram empregos de norte-americanos e ameaçou impor pesadas tarifas às exportações oriundas de locais como a China.

    Não se sabe, por ora, o que Trump pensa a respeito do Brasil. Em entrevista recente a esta Folha, um de seus principais assessores disse que o país passaria a ser ouvido como nunca, mas a verdade é que nenhuma localidade da América do Sul tem destaque em discursos ou declarações do republicano.

    Trump sofre hoje alta rejeição e está cerca de seis pontos percentuais atrás de Hillary Clinton, sua mais que provável adversária, mas não convém subestimar sua capacidade de contrariar expectativas.

    Ainda assim, com dificuldades de conquistar apoio inclusive dentro do próprio partido, Donald Trump deposita suas reais esperanças apenas na possibilidade remota de que os democratas cometam um grande erro na campanha.

    editoriais@uol.com.br

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024