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    editorial

    Ritos e esperas

    05/06/2016 02h00

    Alçado ao poder nas peculiares circunstâncias que se conhecem, o presidente interino, Michel Temer (PMDB), não se tem distinguido pela capacidade de estabelecer contatos comunicativos mais intensos com a opinião pública; nem esta parece ser a sua prioridade.

    Político afeito à vida dos bastidores, conhecedor dos rigores do protocolo e das flexibilidades da realpolitik, Temer elege como principal foco de atenção, até o momento, o restabelecimento dos laços entre Executivo e Congresso.

    Preocupa-se em obter rápida, ainda que não integral, aprovação para as urgentes medidas econômicas cuja elaboração delegou ao ministro Henrique Meirelles (Fazenda), que representa a espinha dorsal de um governo frágil pela origem, abalado por denúncias e inibido nas próprias vacilações.

    Passará ainda bom tempo, contudo, até que providências saneadoras na economia produzam efeitos visíveis na vida da população, embora o ambiente dos investimentos e dos mercados já tenha se desanuviado em termos relativos.

    Compreende-se, pois, a pressa do Planalto em dar celeridade ao processo de impeachment de Dilma Rousseff (PT) no Senado. A cada deslize nestas primeiras semanas do governo Temer a insegurança da interinidade cobra seu preço.

    Não se justificam, todavia, as gestões empreendidas com vistas a alterar o prazo do julgamento. A comissão especial do impeachment aprovou -ao que se noticia com aval de Temer- a redução em 20 dias do processo. Os 15 dias respectivamente dedicados para a apresentação de argumentos da acusação e da defesa
    diminuiriam para cinco para cada lado.

    Ainda que sejam fartamente conhecidas as teses em confronto, não é recomendável alterar o rito prescrito pelo Supremo Tribunal Federal para Fernando Collor, em 1992. Abre-se ocasião para mais uma série de contestações de superfície -demonstrando-se, ademais, de parte do governo interino, novos sinais de consciência quanto à própria vulnerabilidade.

    Esta, por outro lado, é notória. Não a ponto de provocar manifestações de rua na escala das organizadas no ocaso petista. Vive-se compasso de espera diante de uma administração que só a intolerância extrema e o partidarismo preconcebido condenariam em tão poucos dias.

    Ainda assim, o governo de Michel Temer se faz notar pela pouca sensibilidade diante da opinião pública. A revolta generalizada contra os abusos do Legislativo encontra, da parte do presidente interino, um contraponto de mesuras e homenagens.

    O cálculo das negociações políticas presume-os, por certo; mas que se tome cuidado para não torná-lo em insultos à população.

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