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    EDITORIAL

    Retrocesso nas UPPs

    DE SÃO PAULO

    07/06/2016 02h00

    Estão em crise as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), talvez a melhor iniciativa pública no Rio de Janeiro em oito anos. Se o governo fluminense não reagir logo, mesmo em seu atual descalabro financeiro, elas podem ruir de vez.

    Funcionam hoje 38 unidades, a maioria (23) na zona norte do Rio. A mais antiga se instalou em 2008 na favela Santa Marta (zona sul).

    O conceito das UPPs se baseia no policiamento de proximidade, isto é, na presença constante de agentes no território antes dominado por facções criminosas. Por exemplo, com rondas a pé e participação em reuniões comunitárias e práticas esportivas.

    Além de conquistar respeito e confiança dos habitantes, pretendia-se retomar o controle da área pelo Estado. Em seguida viria a normalização de serviços como escolas, postos de saúde, correio etc. Estes vieram, mas não no número e na velocidade esperados.

    O sucesso obtido de início nas menores comunidades, com queda no número de crimes e de tiroteios entre traficantes e policiais, não se repetiu em aglomerados de favelas como o Complexo do Alemão, que abrange 18 delas. Ali, nunca cessaram os confrontos violentos nem as mortes, pois o tráfico não chegou a ser desalojado.

    Reportagem desta Folha mostra que, após R$ 700 milhões em obras, como teleféricos para transporte, o Alemão não foi pacificado. Há quatro UPPs na área, mas a população ainda convive com tiroteios frequentes e toques de recolher baixados por bandidos.

    No mês passado, sete pessoas foram baleadas. Duas outras morreram: uma moradora e um PM.

    As agências bancárias instaladas no complexo aos poucos vão fechando as portas. Os negócios e iniciativas culturais inovadores enfrentam dificuldades crescentes. Barreiras de cimento e metal instaladas pelo tráfico impedem o trânsito de veículos da polícia.

    Pesquisa do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania com 2.000 militares de todas as UPPs indica que o policiamento de proximidade está batendo em retirada.

    De 2010 a 2014, decresceram os contatos de policiais com associações, igrejas, grupos culturais e ONGs; 60% relatam reações negativas de moradores, como raiva, desconfiança e medo –em 2010, eram 28,5%. Mais da metade (52%) se diz despreparada para a função.

    Algo precisa ser feito para revitalizar as UPPs, ou essa ideia generosa se esvairá na convicção de que tudo não terá passado de maquiagem para os Jogos Olímpicos.

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