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    editorial

    Não é a economia

    10/06/2016 02h00

    Após uma reviravolta surpreendente nos últimos dias de campanha, Pedro Pablo Kuczynski, mais conhecido como PPK, venceu a favorita Keiko Fujimori e tornou-se o novo presidente eleito do Peru.

    O triunfo do economista de 77 anos sobre a filha do ex-presidente Alberto Fujimori (1990-2000), hoje preso por corrupção e por violações aos direitos humanos, ocorreu por apenas 0,24 ponto percentual num universo de 18,2 milhões de votantes —uma das disputas presidenciais mais acirradas da história.

    PPK terminou favorecido pela polarização entre defensores e críticos do período Fujimori. Na última hora, eleitores indecisos de esquerda —cuja candidata ficara na terceira posição no primeiro turno— preferiram apoiar um liberal de direita a assistir à vitória de Keiko.

    O novo presidente substituirá Ollanta Humala, que, a despeito de bons resultados na economia e no combate à pobreza, nem lançou um nome para sucedê-lo (não há reeleição no Peru), dado seu baixo índice de aprovação (17%).

    Esse tem sido um traço peculiar da democracia peruana. Alejandro Toledo (2001-2006) e Alan García (2006-2011) também comandaram o Executivo em momento de forte expansão econômica; encerraram seus mandatos impopulares e sem emplacar um herdeiro político.

    Procurando explicar esse curioso fenômeno, especialistas costumam apontar o legado institucional dos anos Fujimori como um dos fatores mais relevantes.

    O receituário neoliberal daquele período levou a um encolhimento expressivo do Estado peruano. Presidentes passaram a dispor de poucos recursos para cumprir suas promessas ou fazer o crescimento chegar às regiões mais pobres.

    A desfiguração dos partidos tradicionais nos anos 90, ademais, criou um cenário fragmentado e instável. No Congresso unicameral, siglas fracas e sem coesão interna dificultam ou inviabilizam negociações com o chefe do Executivo.

    Construir uma coalizão capaz de assegurar governabilidade é o desafio inicial de todo presidente eleito no Peru. Para Pedro Pablo Kuczynski a missão será ainda mais árdua, para não dizer quase impossível: não só venceu o pleito por estreitíssima margem como encontrará um Parlamento composto majoritariamente por fujimoristas.

    A saída para PPK parece residir na improvável construção de uma aliança com Keiko Fujimori, com quem compartilha muitas propostas para a economia –sem isso, dificilmente escapará à mesma sina de seus predecessores.

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