• Opinião

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    Léo Coutinho

    Non Ducor Duco

    14/06/2016 02h00

    Em outubro haverá eleições para prefeito e todo nosso esforço deve ser no sentido de evitar que a esquizofrenia política nacional contamine o debate. Já descontada a coincidência com o calendário olímpico, será uma tarefa hercúlea para todos nós.

    Então vamos nos ater ao município, que afinal é onde a gente vive. Em São Paulo temos um lema gravado no brasão: Non Ducor Duco, "Não sou conduzido, conduzo". Esta é a proposta. Vamos conduzir o nosso debate.

    Aqui o prefeito é Fernando Haddad, do PT. Merece aplausos pela criação da Controladoria, vivas por ter conseguido implementar saquinhos de supermercado biodegradáveis, reconhecimento pela coragem em propor mudanças, da mobilidade à convivência, nos costumes de 12 milhões de pessoas.

    Por outro lado esvaziou a mesma Controladoria reduzindo o número de servidores em dois terços. As lixeiras pelas ruas padecem de manutenção e coleta regular. As ciclovias, símbolo maior do empenho em transformar mobilidade e convivência, estão sob suspeita no Tribunal de Contas por terem custado cinco vezes mais do que uma similar em Paris.

    Isso para não falar do número crescente da população abandonada pelas ruas; dos uniformes não distribuídos que consumiram R$ 15 milhões de reais só em armazenagem, enquanto alunos com deficiência ficavam sem transporte escolar; da falta de iluminação; da piora no atendimento na rede de saúde; da negligência com as árvores.

    Todavia, é no comportamento fanfarrão que Fernando Haddad mais atrasa a cidade, na medida em que enturvece o debate e queima boas ideias.

    No dia 14 de junho de 2015, o prefeito foi ao Bar Veloso e, abordado por um cidadão que reclamou das ciclovias, tuitou uma provocação relacionada às coxinhas. No 30 de julho de 2015, o Tribunal de Contas acusou rombo de R$ 2 bilhões nas contas, e na saída da audiência o secretário de Transportes anunciou a redução da velocidade nas marginais, mudando a pauta.

    Mas e as contas? E mesmo o trânsito: a melhora no fluxo e a diminuição dos acidentes serão efeito da crise econômica ou da redução da velocidade? Precisamos fazer esse debate. Um jornalista critica a gestão? O prefeito falsifica a agenda oficial para trolar o crítico.

    A resposta da população vai na mesma moeda. Há quem considere as ruas de lazer, como a av. Paulista aos domingos, "coisa de esquerdista". Ora, as bicicletas para compartilhamento são do Bradesco e do Itaú. O Citibank instalou uma escultura da Tomie Ohtake. A Fiesp promove concertos. Quem serão os "esquerdistas"?

    Por falar nisso, o prefeito que criou as ruas de lazer, os calçadões no centro, a secretaria da Cultura, museus de rua, promoveu futebol nas praças, passeios a pé e de bicicleta e entregou o lindo Parque do Carmo na Zona Leste foi Olavo Setúbal.

    Indicado em 1975 pela Arena, partido de direita, foi eleito por unanimidade, isto é, com todos os votos do MDB, de centro-esquerda. Seu secretário de Esporte e Turismo, Caio Pompeu de Toledo, em 1982 foi ocupar o mesmo posto como secretário de Estado no governo Franco Montoro, e foi candidato a vice-prefeito na chapa de Fernando Henrique Cardoso em 1985.

    José Serra, eleito prefeito em 2004 pelo PSDB, juntou multidões no centro para a Virada Cultural, que Gilberto Kassab (PSD) continuou e Haddad mantém.

    Em Londres, o ex-prefeito Boris Johnson, típico conservador inglês, aboliu medidas higienistas, como os espetos antimendigos, e promoveu as bicicletas com tanto afinco que o povo londrino as apelidou de Boris Bikes.

    Em Nova York, o bilionário Michael Bloomberg, eleito e reeleito pelo partido Republicano, fechou Times-Square e parte da Broadway para carros, pintou a cidade inteira criando praças e cliclovias, esparramou parklets, apoiou a criação do High Line Park.

    Creio que esses exemplos sirvam para a gente serenar e apurar o debate até outubro. Está em tempo.

    Quem começou essa briga infantil entre o prefeito e os paulistanos já não importa.

    Do prefeito, exige-se que se comporte à altura do posto. Da população, um esforço para serenar e pensar no futuro, lembrando que a agenda de uma cidade melhor para todos não tem cor partidária, mas sim um lema: Não sou conduzido, conduzo.

    LÉO COUTINHO, 37, é escritor, jornalista, membro do Conselho Municipal Participativo de Pinheiros e pré-candidato a vereador de São Paulo pelo PSDB.

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