• Opinião

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    Antonio Cabrera

    Temos o direito de nos defender

    15/06/2016 02h00

    A Folha tem publicado vários artigos favoráveis ao desarmamento nos últimos meses. O debate volta à tona com a tragédia em Orlando.

    Como se tornou habitual nessas ocasiões, o presidente americano Barack Obama representou seu teatro lacrimoso contra o direito de um cidadão comprar uma arma para se defender. Nunca soube que Obama tenha chorado, no entanto, ao vender armas a inúmeros países, inclusive a alguns que hoje abrigam o Estado Islâmico.

    O que se discute nos EUA é um maior controle na venda das armas, mas nada que se aproxime do rigor que hoje existe no Brasil.

    A perplexidade maior é fazer a defesa do desarmamento de forma ditatorial. É assombroso como as coisas são discutidas por aqui: simplesmente se ignora o que a população pensa ou deseja. Em referendo de 2005, 64% dos brasileiros votaram contra o desarmamento.

    O governo, no entanto, vem impondo várias barreiras ao comércio desde então. Hoje é praticamente impossível ter porte de arma no Brasil.

    O recado dado é óbvio: os brasileiros não sabem o que é melhor para eles e é preciso que Brasília ensine o caminho da civilidade. Como somos brutamontes, não podemos ter o direito inalienável de autodefesa. É o Estado-babá se intrometendo em todas as esferas da vida.

    É bom relembrar o economista Thomas Sowell: "Parece que estamos cada vez mais perto de uma situação na qual ninguém mais é responsável pelo que faz, mas todos somos responsáveis pelo que os outros fazem".

    Essa visão ideológica contrária ao porte de armas transformou o Brasil em um dos países mais violentos do mundo, com cerca de 60 mil pessoas assassinadas por ano. O país também abriga 11 das 30 cidades mais violentas do planeta, segundo relatório da ONU. A possibilidade de autodefesa inibe a violência.

    O Estado não deve proibir ninguém de fazer algo, a não ser que isso limite a liberdade de outra pessoa. O porte de arma não limita a liberdade de ninguém.

    Costumes, tradições, valores morais e regras de etiqueta -e não leis e regulações estatais- são o que fazem uma sociedade ser civilizada. Restrições sobre o comércio de armas não deixarão o país mais civilizado.

    Não custa lembrar que armas eram proibidas na casa de show Bataclan, alvo de atentado em Paris, e na boate de Orlando. Os terroristas puderam agir tranquilamente. Já no Paquistão, o ataque à Universidade Bacha Khan só não teve mais vítimas porque professores e alunos também estavam armados.

    O ser humano tem o direito à vida. Isso significa que ele tem o direito de não ter sua integridade física ameaçada ou violada. Se o mal existe, negar ao indivíduo a posse de meios de defender a própria vida é violar o direito a ela.

    O direito de o cidadão comum possuir armas é o mais extraordinário e, infelizmente, o menos compreendido dentre todas as liberdades garantidas em uma democracia. Você pode não gostar de armas. É um direito seu. Mas você não pode negar que liberdade e autodefesa são conceitos totalmente indivisíveis. Sem o segundo, não há o primeiro.

    Eu não gosto de armas. Eu gosto do que elas defendem! Caso não esteja claro, melhor é recorrer a um dos "pais fundadores" da nação de Obama, Thomas Jefferson: "Nenhum homem livre pode ser privado do uso de armas".

    ANTONIO CABRERA, 55, é empresário rural. Foi ministro da Agricultura e Reforma Agrária de 1990 a 1992 (governo Collor)

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