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    editorial

    À espera da autocrítica

    21/06/2016 02h00

    Não chega a ser um mea-culpa, mas já significa alguma coisa que uma figura de destaque no PT tenha admitido, em entrevista a esta Folha, que o partido precisa reconhecer seus erros. Atitudes desse gênero são raras numa agremiação que se perdeu nos próprios labirintos e somente agora começa a abandonar sua empáfia.

    Ex-ministro da Comunicação Social do governo Dilma Rousseff (PT), tesoureiro da campanha presidencial de 2014 e ex-presidente da sigla no Estado de São Paulo, Edinho Silva afirmou o que há muito tempo os brasileiros reconhecem como óbvio: "Em algum momento o PT terá que fazer uma autocrítica perante a sociedade".

    Aos que se perguntam qual a deixa que os atores petistas esperam para iniciar sua fala, Edinho esclarece: "Talvez (...) seja necessário que esse processo todo [a Operação Lava Jato] avance para termos dimensão de até onde ele chega".

    Em uma interpretação benevolente, o ex-ministro conta com as investigações em curso para descobrir quanto o PT se sujou na lama da corrupção. Na mais provável, os dirigentes da legenda não querem assumir desvios antes da hora para que não corram o risco de revelar algo que de outra maneira permaneceria encoberto.

    Seja como for, o estrago está feito —e Edinho sabe disso. Com precisão, o ex-ministro declarou que, dentre as principais agremiações, nenhuma perderá tanto quanto a sua nas eleições municipais deste ano. Com o que parece um exagero, entretanto, acrescentou: "Será a pior eleição da nossa história".

    Verdade que diversos políticos abandonaram o PT. Pelo menos 20% dos cerca de 630 prefeitos eleitos pela sigla em 2012 procuraram outro abrigo.

    Além disso, muitos petistas concorrendo à reeleição certamente serão rechaçados pela população. Contra eles pesarão não só o envolvimento da legenda em reiterados escândalos de corrupção mas também o péssimo desempenho da economia, sempre um fator relevante nas corridas municipais.

    Dada a enorme estrutura que montou enquanto ocupou o governo federal, dificilmente o PT deixará de se sair melhor do que nos anos 1990, quando mal passava de cem prefeituras no país.

    Por medo do desastre eleitoral, o PT voltará a ceder à "realpolitik". Numa demonstração de que aprendeu pouco nos últimos tempos, o partido sinaliza com um pacto para superar a crise. "As investigações têm que continuar, mas é importante estabelecer um prazo para restabelecer a estabilidade política", disse Edinho Silva.

    A Lava Jato continuará até o fim, sem prazo para acabar, e os eleitores jamais perdoarão quem pretender encerrá-la antes da hora —com ou sem mea-culpa.

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