• Opinião

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    editorial

    Vidas ceifadas

    29/06/2016 02h00

    Em 25 dias, a cidade de São Paulo vivenciou três ações policiais que terminaram com as mortes de crianças e jovens. Se não chegam a configurar um padrão, os episódios no mínimo exigem maior atenção para o despreparo de agentes de segurança pública.

    No dia 2, um furto de carro por dois meninos de 10 e 11 anos desencadeou uma perseguição por policiais militares, encerrada após uma colisão. Em meio a uma alegada troca de tiros, o menor dos garotos morreu, baleado na cabeça.

    No sábado passado (25), um menino de 11 anos morreu em circunstâncias semelhantes, mas alvejado por um integrante da Guarda Civil Metropolitana (GCM) após denúncia de roubo. Nova perseguição, disparos contra o veículo e morte com uma bala no crânio.

    O terceiro caso ocorreu dois dias depois, segunda-feira (27). Policiais militares perseguiram um carro que não parou em bloqueio e nele acertaram 16 tiros, atingindo na cabeça um universitário de 24 anos. O rapaz morreu no hospital.

    As três malfadadas ações se acham sob investigação, e não se pode de antemão descartar que os agentes tenham apenas reagido à ameaça. Avolumam-se indícios e incongruências, porém, a sugerir que isso não teria ocorrido.

    De longe o caso mais grave foi o da GCM paulistana. Está vedado a guardas-civis perseguir suspeitos de crimes; se presenciam um flagrante e o criminoso foge, o procedimento recomendado é pedir por rádio intervenção da PM. Para piorar a situação do guarda que disparou, seus dois colegas não confirmam disparos do fugitivo.

    São muito raras as mortes causadas pela GCM. Com efetivo de 6.100 agentes, ela esteve envolvida na morte de cinco pessoas em 2015 e três neste ano. A PM, em comparação, conta com 87 mil homens no Estado (35 mil deles na capital) e foi responsável por 580 mortes no ano passado.

    No primeiro trimestre de 2016, houve 141 mortos por policiais militares paulistas no exercício da função. Mesmo com um recuo de 23% em relação ao mesmo período do ano anterior, ainda representa uma letalidade excessiva.

    A desproporção com a morte de PMs é expressiva: de janeiro a março deste ano, três agentes foram assassinados em serviço e 16 em horário de folga. Se todos os óbitos ocorressem de fato em confrontos legítimos, seria de esperar cifras menos desequilibradas.

    Tem custado muito ao poder público paulista combater a cultura da violência em suas polícias. Que os últimos acontecimentos sirvam de alerta para redobrar esse esforço.

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