• Opinião

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    editorial

    Entre o velho e o novo

    30/06/2016 02h00

    Pela segunda vez em seis meses, a Espanha votou para escolher um novo governo. O pleito de domingo (26), entretanto, não resolveu o impasse que desde dezembro paralisa a política do país.

    A disputa do final do ano passado sepultou o bipartidarismo espanhol, protagonista desde os anos 1980, e marcou a ascensão de novos atores. O desejo de mudança resultou num Parlamento fragmentado e diversificado ideologicamente. A ausência de um acordo forçou a convocação de nova eleição.

    No final de semana, novamente, nenhuma sigla conquistou a maioria dos 350 assentos do Legislativo e o direito de governar a Espanha.

    O Partido Popular (PP), do premiê interino Mariano Rajoy, melhorou seu desempenho e obteve 137 cadeiras —ante 123 em dezembro. A outra sigla tradicional, o Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), amealhou 85, cinco a menos que no pleito anterior.

    Entre as novas forças políticas, a coalizão esquerdista liderada pelo Podemos ficou aquém das expectativas —pesquisas colocavam-na à frente do PSOE— e conquistou os mesmos 71 assentos de antes. O Cidadãos, de centro, viu sua bancada diminuir de 40 para 32 lugares.

    Há quase cem anos, em outro contexto, o pensador italiano Antonio Gramsci escreveu que "a crise consiste precisamente no fato de que o velho está morrendo e o novo ainda não pode nascer".

    Guardadas as diferenças, o raciocínio se aplica à situação vivenciada pela Espanha. Enquanto uma parcela expressiva do eleitorado espanhol rejeita os partidos tradicionais, as siglas emergentes ainda não demonstraram força suficiente para substituí-los.

    A repulsa à elite política decorre, de um lado, dos diversos escândalos de corrupção que a atingiram recentemente; de outro, de sua incapacidade de estancar os efeitos da crise econômica de 2008, que perduram até hoje.

    Apesar do retorno do crescimento nos últimos anos, a Espanha ainda ostenta uma das maiores taxas de desemprego entre os países desenvolvidos (21%) —que chega a 45% entre os jovens.

    É nesse contexto de insatisfação que vicejaram os novatos Podemos e Cidadãos. O primeiro, herdeiro dos protestos de 2011 contra medidas de austeridade econômica; o segundo, mesclando uma posição mais à esquerda no campo social com um discurso pró-mercado.

    Juntos, o velho e o novo têm agora o desafio de alcançar um acordo que enfim permita à Espanha formar um governo. Entre reanimar o passado e fortalecer o futuro, precisam, antes, resolver o presente.

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