• Opinião

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    EDITORIAL

    Nos braços de Júpiter

    06/07/2016 02h00

    Na madrugada desta terça-feira (5), um breve sinal sonoro emitido a quase 800 milhões de quilômetros da Terra marcou o fim de uma longa jornada interplanetária. Após cinco anos de viagem, a sonda Juno anunciou dessa forma sua entrada na órbita de Júpiter, o maior planeta do Sistema Solar.

    Trata-se de um feito raro. Até então, apenas duas outras espaçonaves haviam concluído essa aproximação final em torno de um dos gigantes de nossa vizinhança cósmica: a Cassini, em Saturno, e a Galileo, também em Júpiter.

    A primeira missão joviana, entretanto, concentrou-se sobretudo em seus satélites. Desta vez, o foco será o planeta. Ao longo de 20 meses, a sonda da Nasa (agência espacial norte-americana) dará 37 voltas ao redor dos polos de Júpiter, passando, no trecho de menor distância, a cerca de 4.000 km de sua superfície visível.

    Equipada com sensores de infravermelho e ultravioleta, além de medidores de gravidade e radiação, a Juno perscrutará o interior do imenso astro, cujo volume é cerca de 1.300 vezes o da Terra.

    Com as informações obtidas, os pesquisadores esperam não só desvendar os mistérios de Júpiter como também entender melhor a formação do Sistema Solar.

    Uma das principais missões da Juno é a busca por água. A Nasa pretende descobrir por que o nível de oxigênio no planeta apresenta-se tão baixo —a hipótese é que ele tenha se juntado com hidrogênio e formado moléculas do líquido.

    Ao determinarem a quantidade de água presente na atmosfera de Júpiter, os cientistas poderão ainda estimar em que região do Sistema Solar o astro se formou (quanto mais longe do Sol, maior a abundância esperada do líquido) e o quanto ele se deslocou desde então.

    Além disso, a sonda deverá investigar as profundezas jovianas. A intenção é descobrir se por debaixo da vasta e tormentosa camada gasosa existe um núcleo rochoso, o que ajudaria a validar as teorias atuais de formação planetária.

    Por fim, a viagem da Juno —mulher do deus Júpiter, no panteão romano— representa uma quebra de paradigma na exploração espacial. Nunca se havia chegado tão longe com um artefato alimentado unicamente com energia solar, e não com o combustível atômico habitual.

    A inovação não só barateará as futuras missões interplanetárias como deve reverter-se em novas tecnologias de painéis fotovoltaicos, com óbvias aplicações terrestres. Trata-se de uma bem-vinda consequência dessa espantosa realização do engenho humano.

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