• Opinião

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    Ailton Santos

    Como moscas no vidro da janela

    07/07/2016 02h00

    O mundo parou atônito diante da decisão do Reino Unido de não mais fazer parte da União Europeia, em um momento planetário em que as rotas migratórias se intensificam. Parece que é mais fácil sair do que interferir nas reais causas que têm promovido essa mobilidade.

    A premência das discussões em torno da temática migratória não é só minha, nem sua, mas do mundo e de seus governantes. A escolha britânica denota atitude de uma nação que se encapsulou em uma 'bolha' particular, reflexo de sua histórica soberba, mas que torna-se inócua, quando analisamos a conjuntura global.

    Não basta não fazer parte de um conglomerado geográfico para se eximir da problemática migratória que marca o século 21. Nesse contexto é que se realiza o 7º Fórum Social Mundial das Migrações, a ser realizado de 07 a 10 de julho, em São Paulo (SP).

    O Brasil não está distante dessa problemática, bem como ninguém estará alijado desse processo. Nas ruas de São Paulo e nas principais capitais do país, convivemos com gente proveniente de mais de 90 nacionalidades.

    Sotaques, cor da pele, agremiações religiosas vão sendo revelados nas ruas. Na derivação dessa gente que chega, temos por consequência impactos humanos, no qual o sofrimento individual não entra nas estatísticas, mas está lá, nos olhares e nas expressões das pessoas.

    Aqui, o foco é o ser humano, não sua origem, pois nenhum ser humano, nesse contexto, é ilegal.

    Questões de gênero, raça, falta de legislação local, formação profissional pulsam silentes, mas se avolumam na medida em que o número de pessoas multiplica. Manifestações xenófobas só estão começando e não é possível conter preconceitos meramente com discursos políticos.

    Na pauta do fórum, pertinentemente, precisamos nos aprofundar nos impactos que já estão nas ruas e que podem vir a se transformar em convulsões sociais, no qual o sofrimento humano, aquele que não entra nas estatísticas, só aumenta.

    É de suma importância refletir para o fato de que ninguém sai da sua terra, abandonando valores essenciais, por motivos fortuitos. Há guerras, tragédias naturais, ditaduras, misérias sociais e epidemias, mas essencialmente falta humanidade em suas origens para transpor interesses políticos e econômicos de Estados e grandes corporações.

    O mundo tenta resolver o problema das migrações da mesma forma que uma mosca tenta atravessar o vidro de uma janela.

    AILTON SANTOS é membro da comissão organizadora do Fórum Social Mundial das Migrações no Brasil e faz parte do programa de doutorado em saúde global e sustentabilidade da Faculdade de Saúde Pública da USP

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