• Opinião

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    editorial

    Impasse no Mercosul

    12/07/2016 02h00

    Com a nítida preocupação de evidenciar um novo rumo da política externa, o chanceler José Serra vem agindo para impedir que a Venezuela —uma das autocracias das quais o Brasil se aproximou durante os governos petistas— assuma a presidência rotativa do Mercosul.

    Na semana passada, o político tucano buscou convencer o presidente do Uruguai, Tabaré Vázquez, a aderir à proposta brasileira de impor condições à transmissão do comando do bloco a Caracas.

    O Itamaraty defende que os venezuelanos devem primeiro se adequar plenamente às normas aduaneiras e trabalhistas acertadas entre os países-membros. Sabe-se que a demanda é irrealista —o prazo estabelecido se encerra em agosto, e a resolução das pendências está longe de ser uma prioridade para o governo de Nicolás Maduro.

    Trata-se, portanto, do uso de um pretexto formal, ainda que o pleito seja pertinente, para isolar o regime chavista. Vázquez resistiu ao avanço brasileiro e mantém a intenção de transmitir o mandato de seis meses.

    Com isso, o Mercosul vive um impasse, já que Paraguai e Argentina também são contrários a entregar o posto a Maduro. As divergências se manifestaram na reunião realizada nesta segunda (11) em Montevidéu, quando não se chegou a um consenso sobre que caminho adotar.

    O veto seria uma maneira de pressionar a Venezuela a abandonar sua escalada autoritária, evidenciada pela proliferação de presos políticos e pela cooptação do Judiciário e outras instituições.

    Ainda que a proposta de Serra seja mais branda do que a paraguaia, que quer suspender a Venezuela do bloco, ela se afasta da tradição do Itamaraty para o continente —de agir com discrição, buscar o consenso e se posicionar como mediador de conflitos.

    Além disso, o argumento de que a Venezuela descumpre as normas abriria um perigoso precedente, já que sobram casos de desrespeito ao ordenamento jurídico do bloco.

    O chavismo vem desmantelando a democracia da Venezuela e jogou o país no caos, mas a história mostra que o isolamento internacional com frequência gera mais radicalização interna. Basta lembrar a política linha-dura dos EUA contra Cuba, que por décadas serviu para que a ditadura castrista justificasse a repressão a dissidentes.

    A insustentável crise econômica e a impopularidade de Maduro sinalizam que o regime está com os dias contados. O Brasil deveria se preparar para ajudar na transição, e não gastar energia em bate-bocas públicos e em sanções contraproducentes.

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