• Opinião

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    José Pedro de Oliveira Costa

    Montoro, visionário também do meio ambiente

    15/07/2016 02h00

    Entre suas múltiplas preocupações, André Franco Montoro elegeu a questão ambiental como tese prioritária.

    Para ele, ser ambientalista era ser democrático. A luta pelo meio ambiente, de grande interesse social, era a mesma pela redemocratização do país.

    Utilizou uma árvore como símbolo de sua campanha a governador de São Paulo e sempre repetia: "as grandes causas têm de vir da raiz e crescer como uma árvore para se transformarem em uma estrutura sólida, alimentada por essa seiva que vem de baixo, que vem da terra".

    Sua atuação no governo de São Paulo foi uma revolução. Abrigou a luta pelas Diretas Já, o primeiro grande movimento cívico de massa depois do golpe militar de 1964. Trabalhou pela participação social como base da decisão do setor público.

    Elevou a área ambiental a um patamar nunca antes alcançado por um governante e não superado até hoje, e fez de São Paulo um líder transformador dessa importante questão com influência em todo país.

    Já nos primeiros meses de seu governo criou o primeiro Conselho Estadual do Meio Ambiente de um Estado brasileiro, o Consema, do qual foi seu primeiro presidente.

    Criou as primeiras áreas de proteção ambiental do Estado, fez com que fosse retirado o projeto de construção de Usinas Atômicas no nosso litoral sul, criando ali a Estação Ecológica da Jureia, no local mais belo e relevante para a proteção da mata atlântica da costa brasileira.

    Recebeu a importantíssima Comissão Brundtland das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, em 1985, que aqui sediou sua reunião latino-americana.

    Fez valer o controle da inacreditável poluição em Cubatão, até aquele momento considerada área de segurança nacional.

    Incentivou a criação dos conselhos municipais de Meio Ambiente. Preocupava-se com a cultura e a educação ambiental.
    Em 5 de junho de 1985, fez declarar patrimônio natural do Estado, por meio do tombamento, a Serra do Mar em todo a sua extensão, uma área de 1,3 milhão de hectares no Estado de São Paulo. Iniciativa de vulto ainda não inteiramente compreendida por muitos.

    Com isso, proporcionou a proteção da biodiversidade e da água na região mais populosa do país. Incentivou e alcançou que medidas semelhantes fossem tomadas em outros Estados.

    Como resultado, temos hoje o reconhecimento internacional da Unesco para a Reserva da Biosfera da Mata Atlântica e vários sítios do Patrimônio Mundial Natural numa faixa contínua que segue do Ceará ao Rio Grande do Sul.

    Foi nesse contexto que, em março de 1986, criou a Secretaria Estadual do Meio Ambiente, como órgão central de um sistema, transformador, com a missão arrojada de alcançar níveis reais da civilização.

    Antes e depois de seu mandato como governador, continuou a dar prioridade às questões ambientais. Defendeu a integração da América Latina, postulando entre as razões principais dessa união a questão ambiental, as águas, a floresta e os homens.

    Montoro foi um visionário com os pés no chão. A cada boa proposta que a ele era levada, transformava-a em resultado. Ao comemorar o centenário de seu nascimento nesta quinta (14), vale lembrar que São Paulo e o Brasil devem muito à suas iniciativas, que frutificam até hoje.

    JOSÉ PEDRO DE OLIVEIRA COSTA É secretário nacional de Biodiversidade e Florestas (órgão do Ministério do Meio Ambiente) e pesquisador do Instituto de Estudos Avançados da USP. Foi secretário estadual do Meio Ambiente durante o governo Montoro

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