• Opinião

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    Kátia Bogéa

    Patrimônio mundial, Pampulha marcou arquitetura brasileira

    20/07/2016 02h00

    Quem passa pelo Conjunto Moderno da Pampulha não sai da mesma forma que entrou.

    Beleza e riqueza são marcantes e, não à toa, lhe renderam um título inédito.

    Patrimônio belo-horizontino, mineiro, brasileiro e agora de toda a humanidade, a primeira Paisagem Cultural do Patrimônio Moderno reconhecida pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) como patrimônio mundial, é a valorização de uma obra-prima do gênio criativo humano e coroa o trabalho feito há mais de 70 anos pelo arquiteto Oscar Niemeyer, o paisagista Roberto Burle Marx, o pintor Candido Portinari, artistas como Alfredo Ceschiatti e José Alves Pedrosa, além de tantos mineiros envolvidos em sua construção.

    O Conjunto Moderno da Pampulha é reconhecido como o início da arquitetura genuinamente brasileira, moderna, voltada para a forma livre e criadora, que a caracteriza até hoje.

    Em sua concepção se identifica a exploração da capacidade plástica do concreto armado aliando urbanismo, artes plásticas e paisagismo, além da incorporação de elementos do repertório colonial brasileiro, numa releitura criativa e ousada, expressando determinação arrojada projetual e construtiva.

    A parceria do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) com a Prefeitura de Belo Horizonte e o governo do Estado de Minas Gerais também vale ser ressaltada.

    O Conjunto Moderno da Pampulha entrou na lista indicativa do Brasil em 1996, mas a mobilização e estruturação da candidatura foi efetivamente iniciada em dezembro de 2012, com a sinalização de interesse e compromisso por parte da prefeitura com o Iphan e, em menos de dois anos, o dossiê foi elaborado e entregue ao Centro do Patrimônio Mundial.

    No entanto, o título requer uma grande responsabilidade a ser compartilhada não só pelos órgãos que tutelam o bem - Iphan, prefeitura e Estado. É dever da sociedade civil zelar pelo patrimônio, preservando-o como bem precioso, que precisa de cuidado para que a atual e as futuras gerações o conheçam assim como ele foi concebido.

    Assim como tantos brasileiros sentem-se em casa quando estão em Minas Gerais, tenho certeza de que o mesmo acontecerá com todos aqueles que visitarem a Pampulha para apreciar o belo espelho d'água que agrega, com leveza, as edificações e jardins da Igrejinha de São Francisco de Assis, Cassino (atual Museu de Arte da Pampulha), Casa do Baile (Centro de Referência em Urbanismo, Arquitetura e Design de Belo Horizonte) e Iate Golfe Clube (Iate Tênis Clube).

    O povo mineiro, sempre acolhedor e generoso, mais uma vez ganhou o mundo. O Conjunto Moderno da Pampulha é, a partir de agora, Patrimônio da Humanidade. O título deixa os brasileiros ainda mais cheios de orgulho: é o primeiro concedido pela Unesco como Paisagem Cultural do Patrimônio Moderno.

    KÁTIA BOGÉA, historiadora, é presidente do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional)

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