Dada a constante enxurrada de revelações da Operação Lava Jato, e ainda mais na iminência dos Jogos Olímpicos, parece distante das atenções gerais a disputa pela Prefeitura de São Paulo.
Apresentando os principais candidatos às eleições de outubro, as sabatinas realizadas pela <b>Folha</b>, pelo UOL e pelo SBT servem de ponto de partida para um debate ainda a ser travado com maior detalhamento e convergência temática.
O caráter incipiente das discussões ficou claro no caso do atual líder das pesquisas, Celso Russomanno (PRB). Ele se esquivou de desenvolver o tema de seus vínculos com a Igreja Universal do Reino de Deus, ou de esclarecer quais seriam suas fontes de arrecadação.
Na outra ponta do espectro, Luiza Erundina (PSOL) teve o mérito de abordar um verdadeiro tabu eleitoral: aumento de impostos.
Nas últimas administrações, o que se viram foram inúmeros obstáculos a novas correções do IPTU, dada a variedade das situações de renda e de localização imobiliária numa cidade como São Paulo.
O debate sobre as finanças, de todo modo, é fundamental para que qualquer projeto urbano ganhe um mínimo de consistência.
Não há de ser esquecido o caráter fantasioso do "Arco do Futuro" prometido por Fernando Haddad (PT) há quatro anos, em meio aos efeitos especiais do marqueteiro João Santana. Este, agora, abandona o desenho de viadutos de acrílico e trens de cristal para trilhar o amargo caminho da delação, em consequência de seu envolvimento com verbas de caixa dois.
Tem-se, portanto, uma dupla questão de "financiamento" na disputa para a prefeitura. Não só com respeito às obras urbanas, mas também no que tange às próprias campanhas eleitorais.
Sobressaem, nesse quadro de penúria, debates sobre as poucas inovações que podem ser feitas a baixo custo -a exemplo das ciclovias e da redução dos limites de velocidade para automóveis, marcas da gestão de Fernando Haddad.
Em busca de um novo oposicionismo com vistas ao eleitorado de classe média -lógica que explica sua aliança com Andrea Matarazzo, antes também candidato pelo PSD-, Marta Suplicy (PMDB) fala em rever a política de ciclovias.
João Doria Jr. (PSDB) promete elevar a velocidade permitida nas marginais. O tucano também cogita privatizar os corredores de ônibus e até a gestão das ciclovias.
Sem dúvida, um novo tipo de relacionamento entre poder público e setor privado terá de ser imaginado nos próximos anos. Corrupção e obras são faces da mesma moeda. Além das questões urbanas pontuais, a esses pontos os candidatos terão de dar urgente resposta.