• Opinião

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    editorial

    Ensino médio flexível

    06/08/2016 02h01

    Causou certa surpresa a notícia de que o Ministério da Educação (MEC) vai adiar a entrega da parte relativa ao ensino médio (EM) da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) até que seja aprovada uma reforma dessa etapa de ensino.

    A reação inicial de alguns educadores foi de desconfiança. Temiam que a nova administração estivesse descartando todo o trabalho até aqui realizado.

    A preocupação não é sem fundamento. Autoridades educacionais, afinal, estão cientes de que o Congresso discute mudanças no EM desde 2013 e de que a necessidade de reforma é diagnóstico quase consensual entre os especialistas.

    Parece sensato definir a "arquitetura" do EM antes do "recheio", como ponderou Priscila Cruz, do Movimento Todos Pela Educação. Nesse sentido, o MEC assumiu a missão de agilizar a aprovação pelo Parlamento do PL 6840, do deputado Reginaldo Lopes (PT-MG), que reorganiza o EM e o flexibiliza.

    Com essa definição, a BNCC para o ensino médio, que estava ficando mesmo muito extensa, poderá ser adequada à nova arquitetura e só então enviada ao Legislativo para aprovação.

    É fundamental, entretanto, que o MEC se mobilize para assegurar que a reforma não feneça nos escaninhos do Congresso, como muitas vezes acontece. Nesse cenário, as vítimas se contariam em dobro: a flexibilização do EM e a BNCC.

    Se existem motivos para acreditar que a simples definição de um currículo mais detalhado já representará uma grande ajuda para o ensino fundamental, que encontrará na BNCC uma ferramenta para organizar-se melhor, a percepção em relação ao ensino médio é a de que se faz necessária uma intervenção mais radical.

    Essa fase é o grande gargalo do ensino brasileiro. Os índices de evasão dão uma boa ideia da dimensão do problema. A taxa anual de abandono no médio flutua um pouco abaixo dos 7%, contra menos de 2% no fundamental. Os números relativos a desempenho são ainda piores que esses.

    O país precisa de uma escola que faça mais sentido para o jovem, na qual ele tenha a possibilidade de moldar sua formação a seus planos para o futuro.

    Há os que pretendem ir para a universidade e os que desejam seguir uma carreira técnica. Há os que apostam em aptidões artísticas e os que se deliciam com problemas de álgebra.

    Enquanto não se der ao jovem a opção de definir seu próprio percurso, a evasão seguirá com impactos deletérios na educação, na economia e na própria vida do jovem.

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