• Opinião

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    MEVLUT CAVUSOGLU

    A noite dos heróis anônimos na Turquia

    10/08/2016 02h00

    Por volta das 22h de sexta-feira, 15 de julho, membros de uma célula militar adormecida de culto ao terror tentaram aplicar um golpe na Turquia e derrubar um governo eleito democraticamente.

    O golpe foi encenado por um grupo das Forças Armadas da Turquia ligado à Organização Terrorista Fethullah Gulen. Os oficiais traidores mataram dúzias de policiais encarregados de proteger o povo e lançaram bombas contra o Parlamento turco num momento em que o legislativo ainda se encontrava em sessão.

    O presidente do Estado-Maior Conjunto e vários outros generais de alta patente foram sequestrados por seus próprios agentes de segurança. Diversas instituições democráticas do país sofreram ataques quase simultaneamente.

    Então algo miraculoso e sem precedentes aconteceu. Cidadãos da Turquia responderam, dando-se conta de que a democracia corria perigo. As mídias sociais noticiaram o golpe, e as pessoas interromperam o que faziam e foram às ruas.

    No momento em que o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, retornava ao aeroporto de Istambul, centenas de milhares de cidadãos invadiram as ruas. Não temeram enfrentar tanques e soldados armados com artilharia pesada.

    Ordenados a derrubar qualquer resistência, participantes do golpe, em helicópteros, atiraram na multidão de civis.

    Cinco horas após o início da insurreição, os tanques, enviados às ruas para intimidar, foram cercados por turcos enfurecidos com a tentativa de interferência na ordem democrática. Soldados que haviam disparado contra civis inocentes abaixaram suas armas e se renderam. A tentativa de golpe falhou ali.

    A democracia foi protegida por cidadãos comuns que se juntaram contra o golpe. A mídia também teve um papel fundamental na mobilização das pessoas. No Parlamento, os partidos emitiram uma declaração conjunta contra os traidores.

    Tragicamente, 246 cidadãos civis turcos morreram durante essa violenta campanha de terror -179 deles permaneceram bravamente em frente aos tanques e clamaram por seus direitos democráticos. Cerca de 2.000 pessoas ficaram feridas.

    Todos os participantes da tentativa de rebelião serão processados e julgados no rigor da lei. Os depoimentos dos detidos e as informações que recebemos de várias agências oficiais do governo provam que o golpe foi engendrado pela Organização Terrorista Fethullah Gulen.

    Por mais de 30 anos, o clérigo Fethullah Gulen encorajou seus seguidores a se infiltrarem nos serviços militar e judiciário na Turquia. Imagens registradas por câmeras escondidas, em 1997, mostram Gulen orientando-os a conseguir cargos em todos os níveis do Estado, especialmente os mais centrais.

    Acobertando essa agenda sinistra e hedionda, Gulen formou uma vasta rede de escolas, ONGs e negócios. Secretamente, infiltrou-se em repartições públicas para derrubar um governo democraticamente eleito.

    Gulen, muitas vezes procurado por autoridades turcas para ser julgado por várias acusações de conspiração, reside atualmente no sul da Pensilvânia (EUA).

    Esperamos que as autoridades norte-americanas se mostrem solidárias com a Turquia, sua aliada na OTAN (aliança militar ocidental), e tomem medidas imediatas para restringir as atividades de Gulen e sua rede e extraditá-lo para nosso país

    MEVLUT CAVUSOGLU, mestre em economia pela Universidade de Long Island (EUA), é ministro das Relações Exteriores da República da Turquia. Foi um dos fundadores do AKP (Partido Justiça e Desenvolvimento), atualmente no poder em seu país

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