• Opinião

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    Alexandre Saddy Chade, Suheil Yamout e Walter Feldman

    Futebol, instrumento da paz

    16/08/2016 02h00

    Em tempos de escalada do terrorismo pelo mundo, os Jogos Olímpicos, em boa hora, reafirmam valores subvertidos pelo medo, pela ignorância e pela violência. Intolerância cultural, religiosa, sexual ou desvios na política apenas alimentam essa perversão.

    Se Rio 2016 puder deixar um grande legado, para nós e para o mundo, que seja a fé de que ainda há muitos caminhos para a humanidade marcados pela sustentabilidade, solidariedade, justiça e multiplicidade de encontros.

    Foi com esse espírito que a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) organizou a Rodada da Paz, um encontro histórico realizado no dia 7 de agosto. Antes de a bola rolar no jogo entre Palmeiras e Vitória, no Allianz Parque, em São Paulo, 22 crianças e adolescentes israelenses e palestinos, vindos de zonas de conflito no Oriente Médio, formaram dois times e disputaram uma partida.

    O evento contou com apoio da Federação Paulista de Futebol, dos clubes Sociedade Esportiva Palmeiras e Esporte Clube Vitória, da ONG Organização Caminho de Abraão. Crianças dos clubes Hebraica, Círculo Macabi, Clube Atlético Monte Líbano, Esporte Clube Sírio e Esporte Clube Pinheiros também participaram.

    O jogo foi um belo exemplo de vitalidade, alegria, respeito às regras e aos adversários. Mesmo quem pouco acompanha o noticiário faz ideia do significado desse encontro: a possibilidade de romper o círculo vicioso de ódio e intolerância que marca a relação dos dois povos, geração após geração.

    Sabemos que o futebol é capaz de interromper conflitos. Já o fez na Primeira Guerra Mundial, quando alemães e britânicos saíram das trincheiras para jogar bola, episódio conhecido como a Trégua de Natal. Também no Zaire e no Haiti a guerra civil cessou durante jogos.

    E se pudéssemos, além de criar momentos de paz em meio ao conflito, fazer da exceção a regra? E se a paz fosse constante, e o jogo limpo também acontecesse entre os povos?

    A aproximação de crianças e adolescentes em campo representou um gol para aqueles que acreditam no esporte como base para novos caminhos humanitários.

    Dentre os envolvidos, gostaria de destacar Gabriel Holzhacker, que está na ponta do projeto, realizando-o cotidianamente em zonas de conflitos, aproximando, pela força do futebol, povos de diferentes religiões e culturas. Ele dirige a ONG Gol da Igualdade e vive no Oriente Médio desde 1999.

    Como Mahatma Gandhi ensinou, para mudarmos o mundo temos que rejeitar toda e qualquer violência, resolver os conflitos com base no diálogo e em valores tradicionais, como justiça, liberdade, equidade, solidariedade, compreensão e afetividade.

    O futebol brasileiro, marca de um povo pacífico, é um exemplo de como a mistura e a multiplicidade de cores e credos são possíveis.

    Após o sucesso dessa Rodada da Paz, por que não aproximar Coreia do Norte e Coreia do Sul por meio do futebol? Temos muito a colaborar e a construir em tempos de terror, mas antes é preciso rejeitar o rótulo de vira-lata e aceitar que nossa cultura também pode indicar caminhos para o resto do mundo.

    ALEXANDRE SADDY CHADE, 46, empresário, é presidente da ONG Caminho de Abraão, que promove atividades de integração entre árabes
    e israelenses

    SUHEIL YAMOUT, 62, empresário libanês, é presidente do Instituto Futuro, que congrega líderes muçulmanos em missões pela paz

    WALTER FELDMAN, 62, médico, é secretário-geral da CBF - Confederação Brasileira de Futebol. Foi vereador, deputado estadual e federal por São Paulo

    Chamada - Rio 2016

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