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    editorial

    O preço da paz

    27/08/2016 02h00

    Anunciada na noite de quarta-feira (24), a conclusão do acordo de paz entre o governo da Colômbia e as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) põe o país perante uma encruzilhada histórica.

    Se o pacto vier a ser ratificado pelo voto popular, representará o tão esperado fim de uma guerra que já dura mais de 50 anos e provocou a morte de cerca de 250 mil pessoas, além do deslocamento de quase 8 milhões.

    Negociado ao longo dos últimos quatro anos, o acordo possui, em essência, três objetivos: eliminar os fatores apontados como raiz do conflito, criar condições para que as Farc deixem de existir como guerrilha e se tornem um movimento político e satisfazer minimamente o direito das vítimas à verdade, à justiça e à reparação.

    Para o primeiro item, o governo colombiano se comprometeu a realizar uma reforma agrária e a reduzir a pobreza das áreas rurais. A grande concentração de terras e a desigualdade estão na origem da luta das Farc –inicialmente um movimento camponês de inspiração marxista que acabou se tornando uma organização criminosa, sustentada pelo tráfico de cocaína.

    Com relação ao segundo ponto, o acordo dá aos ex-guerrilheiros a possibilidade de disputar eleições, com uma cota mínima garantida na Câmara e no Senado.

    Por fim, as vítimas serão ressarcidas conforme o impacto da violência em suas vidas, e será criada uma comissão para encontrar e identificar mortos e desaparecidos. O texto, ademais, prevê que os guerrilheiros serão julgados por um tribunal especial, que condenará a penas mais brandas aqueles que confessarem crimes, mesmo que violentos.

    Em troca, as Farc se comprometem a deixar as armas, abandonar o cultivo da coca e a pedir perdão pelos delitos praticados.

    Para entrar em vigor, contudo, o acordo precisa ser aprovado em votação popular, marcada para 2 de outubro. Ainda que as pesquisas de opinião venham mostrando que os colombianos apoiam as tratativas de paz, dois pontos —a participação política e a justiça especial— são amplamente rejeitados pela população, que os vê como concessões excessivas.

    Isso tem sido explorado pelos adversários do pacto, como os ex-presidentes Andrés Pastrana e Álvaro Uribe, e será um dos principais argumentos contra a sua aprovação.

    "Não é o acordo perfeito, mas é o acordo possível", declarou o representante do governo nas negociações. Está nas mãos dos colombianos decidir se é um preço justo a pagar pelo fim do longevo conflito.

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