• Opinião

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    editorial

    Fresta de oportunidade

    01/09/2016 02h00

    Quis o acaso que o afastamento definitivo de Dilma Rousseff (PT) da Presidência pelo Senado coincidisse com a divulgação de uma estatística que resume seu fracasso no governo: o sexto trimestre seguido de retração do PIB, algo sem registro na história do país.

    Desde que a recessão atual se iniciou, no começo de 2014, a economia encolheu 7,9%, pior desempenho entre as principais economias do mundo. A retração de 0,6% observada no segundo trimestre (em comparação com o anterior), porém, indica que pode estar em curso uma estabilização.

    Depois de amargar um colapso de 26% ao longo de dez trimestres consecutivos, os investimentos avançaram, ainda que modesto 0,4%. A produção industrial já mostrara alta de 1,2%.

    É um sinal importante, e vem acompanhado de rápida recuperação dos indicadores de confiança na indústria, no comércio, nos serviços e até na construção civil. Mas permanecem vários obstáculos estruturais para uma retomada consistente.

    Na terça-feira (30) divulgou-se novo aumento do desemprego, de 11,3% para 11,6%. São agora 11,8 milhões de brasileiros sem trabalho. Entre os empregados, a renda apresentou perda de 3,1% (valor ajustado pela inflação) entre julho de 2015 e julho de 2016. Não por acaso, verificou-se, nos dados do PIB, retração no consumo.

    A retomada ainda depende de reformas que reduzam o risco de insolvência do Estado, como a imposição de um teto para os gastos públicos e uma revisão das normas da Previdência.

    O teto demandará esforço especial de convencimento quanto às despesas com saúde e educação. Não será mais possível ampliá-los na proporção do crescimento da receita, e caberá mostrar ao país que não serão esmagadas pela expansão contínua de outras rubricas.

    Para pedir sacrifícios da sociedade, o governo precisará conter salários e benefícios dos estratos superiores do funcionalismo, assunto em que o presidente Michel Temer (PMDB) até agora tergiversou. Subsídios a grandes empresas também devem ser reduzidos.

    Se Temer falhar em convencer o país de que é capaz de combinar equilíbrio orçamentário com justiça social, sua gestão e sua legitimidade serão rapidamente erodidas.

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