• Opinião

    Saturday, 18-May-2024 14:26:26 -03

    editorial

    Trégua temporária

    15/09/2016 02h00

    Parece pouco provável que o novo cessar-fogo na Síria, patrocinado por EUA e Rússia, produza mais do que alguns dias de calma. O próprio secretário de Estado americano, John Kerry, já manifestou ceticismo.

    A tentativa, todavia, é válida. Mesmo que a trégua não perdure, a interrupção temporária de hostilidades dará a agências humanitárias condições de levar ajuda a populações como a de Aleppo, castigadas por combates e crise de abastecimento de alimentos e remédios.

    No que diz respeito a uma solução duradoura para o conflito, as perspectivas são consternadoras. O jornal "The New York Times" publicou recentemente longa reportagem em que ouviu especialistas em guerras civis. Eles traçam um retrato bem sombrio para a Síria.

    Conflitos civis duram em média dez anos. Assim, se a guerra civil síria, com um saldo de 400 mil mortes desde seu início, em 2011, obedecer à mesma métrica, o país abrigará enfrentamentos por pelo menos mais um quinquênio.

    A maior parte das guerras civis acaba quando um dos lados perde. A derrota pode se dar no campo de batalha ou pela exaustão de recursos; 25% desses conflitos terminam num acordo de paz, pois ambos os lados esgotaram sua capacidade de seguir na batalha.

    É muito pouco provável, contudo, que isso venha a acontecer na Síria. Não há só duas partes se enfrentando no país. Além das forças do governo, há os islamitas moderados, a facção terrorista Estado Islâmico, outros grupos muçulmanos extremistas e os curdos. Quase todas recebem ajuda externa, o que dificulta o cenário de exaustão.

    Outro obstáculo não pode ser desconsiderado. Muitos dos principais contendores, mais do que uma batalha política, travam uma guerra existencial. Sabem que, se derrotados, poderão ser vítimas de genocídio promovido pelo vencedor.

    Embora cientes da improbabilidade de subjugar os adversários, continuam combatendo para preservar territórios e vidas. Atingir um mínimo consenso em tal configuração beira o impossível.

    Por ora, ainda que insuficiente, negociar tréguas que permitam a chegada de ajuda humanitária e não rejeitar, como imigrantes, os que conseguem escapar das zonas de guerra já inspiram algum alento em um cenário tenebroso.

    editoriais@grupofolha.com.br

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024