• Opinião

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    editorial

    Sábia e dolorosa decisão

    01/10/2016 02h00

    Os colombianos dirão neste domingo se chancelam ou não o acordo de paz firmado entre o governo e as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), facção que iniciou suas atividades como guerrilha marxista, mas se enfronhou cada vez mais no narcotráfico e no banditismo comum.

    Se a proposta for aceita pela população, será estabelecido o fim de um conflito que dura 52 anos e provocou cerca de 250 mil mortes.

    As pesquisas indicam que o "sim" será majoritário —e não há dúvida de que essa é a melhor opção. Os numerosos assassinatos e o deslocamento forçado de cidadãos são duas das faces mais cruéis de um confronto que já ocasionou sofrimento em demasia.

    As próprias causas do enfrentamento deixaram de fazer sentido, uma vez que a oposição entre sistemas comunistas e aqueles regidos pela economia de mercado perdeu pertinência no mundo moderno.

    Superar esse pedaço trágico da história da Colômbia e começar a curar feridas é um imperativo. Refutar o acordo provavelmente levaria a um recrudescimento das hostilidades, dado que os guerrilheiros ainda não depuseram suas armas.

    Em certo sentido, os colombianos votam de modo binário: só podem aceitar ou rejeitar a proposta, sem chance de alterar nenhum de seus polêmicos dispositivos.

    Em grandes linhas, o acordo prevê a desmobilização da guerrilha em troca de generosa anistia, que afasta penas de prisão para a maioria dos envolvidos, e da transformação do facção num partido político.

    A nova agremiação terá cadeiras asseguradas nas duas próximas legislaturas, independentemente de conseguir os votos para tanto, e os guerrilheiros que abandonarem as armas receberão um subsídio do governo.

    Especialmente para as vítimas do conflito, tais concessões decerto soam insultuosas. Como convencer da legitimidade do acordo, por exemplo, uma mãe cujos filhos foram sequestrados pela guerrilha ou uma garota que foi estuprada e teve toda a sua família assassinada?

    Na verdade, não há como fazê-lo. O que caracteriza a chamada justiça de transição, adotada em situações de restabelecimento da paz, é justamente a aceitação de que as regras normais do sistema judicial serão relaxadas em nome de um bem maior que interessa a todos: a superação do conflito.

    Ao que tudo indica, os colombianos estão prontos para tomar essa sábia, mas dolorosa, decisão.

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