• Opinião

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    ROBERTO AZEVÊDO

    A vez das pequenas empresas

    11/10/2016 02h00

    Em todo o mundo, as pequenas e médias empresas (PMEs) são responsáveis por parcela significativa da atividade econômica e da geração de empregos. No Brasil, pesquisas indicam que respondem por cerca de 30% do PIB e mais de 15 milhões de postos de trabalho.

    Esse mesmo vigor, porém, não se reflete no mercado internacional. Segundo estudos, as exportações das PMEs representam, em média, 7,6% do total de suas vendas -para as grandes empresas esse percentual é quase o dobro.

    Na área de serviços, a receita decorrente de exportações não costuma chegar a 1% do total das vendas das PMEs, enquanto nas grandes empresas supera os 30%.

    Evidentemente, há algumas barreiras ao comércio que afetam desproporcionalmente as empresas pequenas. Pense, por exemplo, nos custos de obter uma certificação internacional para exportar móveis ou polpa de frutas.

    Ou mesmo para obter informações sobre essas exigências técnicas ou sanitárias em outros países. Para os grandes, esses custos são mais facilmente diluídos no volume maior das operações. Para os menores, podem facilmente inviabilizar a exportação e deixá-los fora do jogo.

    É verdade que as PMEs enfrentam desafios associados às suas próprias dimensões, mas não há dúvida de que poderiam estar mais presentes no mercado externo.

    Esse é um assunto que merece nossa atenção - por isso decidimos dedicar a principal publicação anual da Organização Mundial do Comércio (OMC), o Relatório sobre o Comércio Mundial, a ele. Lançado recentemente em Genebra, o estudo detalha as dificuldades que afetam as exportações e importações das PMEs e também aponta para oportunidades de ação.

    Facilitar o acesso à informação, à tecnologia e ao financiamento pode fazer diferença na inserção das pequenas empresas no comércio global. Outra boa oportunidade está no comércio eletrônico, que oferece a possibilidade de conquistar o consumidor final em outros países, a custos mais baixos.

    A simplificação de procedimentos aduaneiros também é medida necessária. Mais de 90 países já se comprometeram formalmente com o Acordo de Facilitação de Comércio da OMC, concluído em 2013, e fazem reformas para melhorar seus procedimentos na área comercial.

    O Relatório sobre o Comércio Mundial vai ajudar a iluminar um debate que já ocorre entre os membros da OMC. Vários países buscam iniciativas para democratizar o comércio, fazendo com que mais indivíduos e empresas possam se beneficiar de mercados globais.

    Aos poucos, novas ideias surgem, incluindo temas como barreiras não tarifárias, acesso à informação, financiamento às exportações, capacitação e comércio eletrônico.

    Além disso, como o relatório também mostra, o comércio internacional faz bem às PMEs: as que vendem para o mercado externo ou que trabalham também com fornecedores estrangeiros tendem a ser mais produtivas e inovadoras do que aquelas que não o fazem.

    Num contexto econômico global particularmente difícil, governos e organizações internacionais devem buscar todas as oportunidades para gerar mais empregos, comércio e crescimento sustentável.

    É evidente que há espaço para que as PMEs estejam mais presentes no comércio internacional, somando-se aos esforços globais para reaquecer a atividade econômica. Está mais do que na hora de dar atenção às pequenas.

    *ROBERTO AZEVÊDO * diplomata, é diretor-geral da Organização Mundial do Comércio - OMC

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