• Opinião

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    editorial

    Ocupação racional

    02/11/2016 02h00

    Encerrado nesta terça-feira (1°/11) o prazo do governo federal para desocupar escolas em que se realizaria o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), permaneciam sob controle de estudantes 304 estabelecimentos do total de 16 mil selecionados. Com isso, 191,5 mil dos 8,6 milhões de inscritos só farão a prova em 3 e 4 de dezembro.

    Estima-se que haja mais de mil colégios tomados por jovens no país todo. O epicentro se encontra no Paraná, onde 850 escolas chegaram a estar invadidas.

    Sob pressão de mandados de reintegração de posse, as ocupações paranaenses recuaram para 315, segundo a Secretaria da Educação do Estado.

    Assestado contra o teto de gastos federais e a reforma do ensino médio propostos pelo governo do presidente Michel Temer (PMDB), o movimento não afeta só candidatos do Enem. Sai prejudicada também a maioria de alunos que não aderiu à paralisação e fica privada de aprender.

    Isso não é razão para endossar as ocupações, nem muito menos reagir com truculência a elas. Embora a interrupção forçada das aulas esteja longe de ser a melhor maneira de se fazerem ouvir, os jovens são parte diretamente interessada nos rumos do ensino e têm direito a influir neles.

    Em 2015, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), deu farto exemplo do que não se deve fazer. Tentou impor uma reorganização física das escolas, mas teve de recuar no projeto, em si justificável, quando se tornou evidente que a repressão só fazia o movimento adensar-se e a popularidade do tucano despencar.

    Esclarecer e convencer, aqui como em qualquer atividade educativa, são imperativos. Para isso, os próprios estudantes têm de se organizar para articular com mais profundidade suas objeções à reforma encaminhada pela gestão Temer.

    Não basta apegar-se a simplificações, como afirmar que certas disciplinas desaparecerão da grade. Algumas deixam de ser obrigatórias, mas boa parte da carga horária do ensino médio ainda terá de ser preenchida com outras aulas além de língua e matemática.

    Tais mudanças caminham no sentido de tornar mais flexível o currículo. Não é de hoje que há consenso sobre isso, bem como a respeito de outros pontos da reforma.

    Se não derem passos para amadurecer suas propostas, as ocupações podem terminar promovendo o mesmo efeito das rotineiras greves realizadas pelos professores nas redes públicas: empobrecer ainda mais um ensino que já é de péssima qualidade.

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