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    editorial

    Debaixo de água

    08/11/2016 02h00

    As chuvas retornaram com ímpeto e estrondo à cidade de São Paulo. E antes da hora, no que toca ao calendário oficial das ações da prefeitura para mitigar o impacto dos temporais sobre a metrópole.

    De acordo com o plano que o prefeito de saída, Fernando Haddad (PT), deixa para o sucessor, João Doria (PSDB), as providências começariam só na próxima semana e se estenderiam até 15 de abril.

    Ainda em outubro, porém, vendavais já se abatiam sobre a capital. Com eles veio a sequência habitual de desastres: 2.500 árvores caídas sobre veículos e fiação; ruas e avenidas alagadas; semáforos apagados; enxurradas e lama.

    No último dia 20, a concessionária Eletropaulo recebeu 29 mil chamadas —por hora— sobre falta de energia. Uma saída que vá além da remediação seria levar a rede elétrica para o subsolo, mas isso tomaria um século, no ritmo de 250 km/ano previsto em lei municipal, e custaria estimados R$ 100 bilhões.

    De todo modo, a Justiça barrou a norma paulistana que exige o enterramento, pois a empresa detém uma concessão federal e o município não teria jurisdição sobre isso.

    O tormento dos semáforos inoperantes, que segundo a prefeitura se mantém no limite de 2% em dias de chuva, poderia também ser minorado. Menos da metade dos aparelhos tem sistemas de baterias ou sensores para monitorar falhas.

    Em matéria de enchentes, Haddad só vai concluir 3 das 13 obras prometidas para melhorar a drenagem e elevar em 50% a reservação emergencial na cidade.

    Muitas das agruras de São Paulo com as chuvas decorrem da expansão da mancha urbana e da crescente impermeabilização do solo. Sem ter como infiltrar-se, a água se acumula e escoa pela superfície.

    Mais asfalto e concreto produzem o efeito chamado de ilha de calor: a temperatura sobe no centro geográfico da metrópole. Com isso, ganha força o movimento ascendente do ar (convecção), o que concentra quantidade e violência das tempestades sobre a cidade.

    Estudos já mostraram que a temperatura paulistana se elevou 2°C, em sete décadas, com quase 400 mm anuais de aumento na precipitação. Em razão disso, tornaram-se mais frequentes as chuvas intensas.

    Mais que um cronograma, São Paulo precisa de um programa permanente para enfrentar as enchentes, a falta de energia e o colapso do trânsito. O padrão de temporais está mudando, e a cidade precisa adaptar-se à nova realidade.

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