• Opinião

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    editorial

    "Fatozinho"

    30/11/2016 02h00

    Tem razão o presidente Michel Temer ao diagnosticar a extrema sensibilidade da opinião pública e dos investidores internacionais e nacionais a crises políticas que atinjam personagens importantes do governo federal.

    A tempestade que se abateu sobre o país nos últimos anos, perfeita em sua potência destrutiva e na estreiteza de suas linhas de fuga, aumentou exponencialmente a desconfiança em relação à chamada classe política e à capacidade do país de retomar o crescimento econômico e controlar as finanças públicas.

    Em meio às chocantes revelações da Lava Jato e de outras operações, não há dúvida de que desvios de conduta e comportamentos antirrepublicanos de autoridades do primeiro escalão federal causarão graves turbulências —ou "instabilidade institucional", como disse o presidente em discurso para uma plateia de empresários nesta segunda (28).

    Equivoca-se o mandatário, no entanto, ao referir-se à origem da mais recente crise ministerial como um "fatozinho". As evidências que cercam o episódio, como se sabe, apontam para um caso de pressão de um ministro de Estado, experiente e próximo do titular da Presidência, sobre um colega neófito, com o intuito de obter vantagens privadas num empreendimento imobiliário.

    Que o caso possa parecer menor, comparado ao espetáculo de corrupção em curso —talvez por não envolver desvio de recursos públicos milionários—, apenas expõe a flexibilidade de critérios que predomina hoje no meio político.

    O "fatozinho" —e note-se que o próprio Temer desculpou-se "en passant" ao dar-se conta da expressão infeliz— acabou transformando-se, associado a movimentações solertes da Câmara, em mais um obstáculo para um clima político-institucional favorável à aprovação das medidas de ajuste econômico indispensáveis para combater a recessão.

    Antes de minimizar condutas deploráveis de seus assistentes e colocar panos quentes em crises que poderiam perfeitamente ter sido evitadas, melhor faria o presidente se se cercasse de uma equipe capaz ao menos de compreender o clamor ético da população e o momento delicado pelo qual passa o país.

    Já seria salutar, em meio aos erros políticos em série que se cometem, se o governo, como disse o mandatário de maneira até simplória, ficasse "mais atento" para "logo alcançarmos o crescimento" —objetivo cujo atingimento vai se arrastando.

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