• Opinião

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    editorial

    Fogo e madeira

    24/12/2016 02h00

    Não foi pouco para um único dia de fiscalização. Dois caminhões, um trator, uma camionete e uma pá carregadeira foram inutilizados pelo Ibama, por servirem à extração ilegal de madeira na divisa entre Rondônia e Mato Grosso.

    Embora os agentes do instituto tivessem o que comemorar, seria incorreto qualificar como êxito o que ocorreu -pelo menos de uma perspectiva mais alongada no tempo.

    A facilidade com que se encontraram sinais flagrantes de desmatamento nada mais revela do que o extremo de sem-cerimônia dos madeireiros ilegais na Amazônia.

    Autorizada por decreto de 2008, a destruição dos equipamentos empregados nessa atividade predatória parece ser uma das poucas punições efetivamente ressentidas pelos infratores. Levada a cabo por meio de helicópteros, a ação do Ibama afugenta, pela mera atoarda de sua aproximação, os responsáveis diretos pelo crime.

    Apenas os helicópteros levantam voo novamente, contudo, o desmatamento prossegue. Operações dessa monta se fazem de raro em raro, e os madeireiros não chegam a abalar-se da área protegida.

    Além da óbvia extensão da floresta, outros fatores tornam complexa a fiscalização. Madeireiros possuem, por exemplo, licença para a exploração sustentável do recurso natural, mas a utilizam para enveredar em áreas protegidas.

    O Ibama defende mecanismos que possibilitem rastrear cada tora de madeira até seu respectivo toco na floresta -o chamado DNA da origem do produto extraído.

    O sistema propiciaria, talvez, punições exemplares e isoladas.

    Iniciativas mais extensas e difíceis, mas de maior alcance, envolveriam o engajamento da população em outras atividades atraentes do ponto de vista econômico. A falta de alternativas de trabalho sem dúvida explica por que madeireiros ilegais encontram algum apoio entre os habitantes da região.

    Ainda que fulgurante, a ação de poucos fiscais será incapaz de interromper o desmatamento.

    De agosto de 2015 a julho de 2016, a devastação na Amazônia cresceu 29%, depois de relativa estabilidade em seu ritmo na última década. Recusada já no governo Dilma Rousseff (PT), a meta -técnica e economicamente possível- do desmatamento zero no Brasil se mostra longínqua.

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