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    editorial

    Atraso repulsivo

    28/12/2016 02h00

    Na pandemia de zika que marcou os anos de 2015 e 2016, coube ao Brasil estabelecer a conexão entre o vírus transmitido pelo mosquito Aedes aegypti e malformações graves do sistema nervoso, como a cruel microcefalia.

    Em todos os países por onde a doença passara antes, na África e na Ásia, ou a cepa viral ainda não havia adquirido a capacidade de infectar e deformar bebês ou não havia capacidade técnico-científica para detectar o elo causal.

    Graças à atenção de médicas na linha de frente do SUS, como Adriana Melo, de Campina Grande (PB), e de epidemiologistas como Celina Turchi –ambas distinguidas com prêmios internacionais por seu trabalho pioneiro–, foi possível identificar a causa do misterioso surto de microcefalia.

    O passo seguinte seria trabalhar para prevenir novas infecções.

    O alvo mais óbvio está à vista de todos: o mosquito. Como o Estado nacional desistiu de erradicar o inseto vetor (estão aí as centenas de mortes por dengue e chikungunya para atestá-lo), há um recurso corriqueiro para ao menos minimizar os danos que causa –os repelentes, em especial para mulheres grávidas.

    A ameaça maior da zika ronda as gestantes de baixa renda, cujos fetos até agora têm sido as vítimas usuais do flagelo viral.

    Em dezembro de 2015, o Ministério da Saúde prometeu que faria a distribuição gratuita dos repelentes para todas as mulheres grávidas atendidas pela rede pública. Seria uma medida bem-vinda.

    Em seguida, contudo, o então ministro Marcelo Castro (PMDB) anuncia o recuo: haveria distribuição apenas para as grávidas cadastradas no Bolsa Família. Há 484 mil delas arroladas no programa.

    Um ano depois da promessa, o país trocou de presidente, e o Ministério da Saúde foi para as mãos de outro político, Ricardo Barros (PP). Já a entrega do repelente nem sequer começou.

    Houve 2.289 casos de microcefalia no Brasil desde outubro de 2015. Eis a repulsiva contabilidade do atraso nos governos Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (PMDB).

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