• Opinião

    Friday, 03-May-2024 14:01:02 -03

    editorial

    Prazo esgotado

    05/01/2017 02h00

    A cidade de São Paulo, maior metrópole do hemisfério Sul, trabalha com modorra provinciana para tornar-se civilizada em requisitos básicos da modernidade urbana: a coleta e o tratamento de esgotos.

    No fim do ano passado, a Sabesp (empresa paulista de saneamento básico) firmou acordo com os proprietários de 78 imóveis da capital e de sua região metropolitana para que providenciem ligação de esgotamento sanitário à rede de coleta existente no local.

    Entre os endereços estão o da Portuguesa, tradicional clube de futebol, e o de uma casa com 680 metros quadrados, com piscina, no bairro do Morumbi. Com a adesão de todos, 29 milhões de litros de dejetos deixarão de ser lançados in natura, mensalmente, em galerias pluviais, córregos e rios.

    Falar em milhões de litros pode parecer muito, mas só a Diretoria Metropolitana de Distribuição da Sabesp produz a cada mês 168,5 bilhões de litros de água, que, após o uso, chegarão aos esgotos.

    Diante disso, o volume de descarte irregular evitado com os 78 acordos não chega a 0,02% do total produzido. Cabe lembrar que, no Estado de São Paulo, a população das cidades atendidas pela Sabesp tem 86% do esgoto coletado e 67% dos dejetos tratados.

    São índices bons para o Brasil —onde metade da população tem acesso à coleta e só 40% do esgoto produzido passa por tratamento—, mas não para sua região mais rica.

    Pior: os 78 proprietários enquadrados são a minoria dos 318 imóveis listados numa iniciativa de regularização que uniu a Sabesp e o Tribunal de Justiça. Foram selecionadas edificações que consomem mais de 50 mil litros de água a cada mês, mas não contam com ligações na rede de esgotamento.

    Considere-se o tamanho do absurdo: entre elas figura um condomínio com 140 unidades habitacionais e geração de 5 milhões de litros de dejetos mensais. Como é possível que tal enormidade se materialize sob as barbas da empresa de saneamento?

    A Sabesp, contudo, se ampara no fato de não ter poder de polícia. Ela opera um serviço por concessão das prefeituras que a contratam e às quais caberia fiscalizar e multar os proprietários em falta.

    Se os prefeitos se omitem, isso não justifica que a Sabesp fique de braços cruzados. O convênio com o tribunal comprova que algo pode e deve ser feito, mas é urgente dar escala mais ampla à iniciativa.

    Só na região metropolitana de São Paulo são 65 mil imóveis desconectados da rede coletora disponível em suas portas. No Estado todo, 240 mil. Não há tempo a perder.

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024