• Opinião

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    editorial

    Elefantes quase brancos

    07/01/2017 02h00

    Muito antes de terminar a Copa do Mundo de 2014 já se afirmava que diversos estádios construídos para o torneio de futebol mereciam ser chamados de elefantes brancos. Sempre figuravam nesse rol as arenas de Cuiabá, Brasília e Manaus, cujo gigantismo contrasta com o tamanho das equipes locais.

    Nessa lista se incluem agora os estádios erguidos em Natal, no Recife, na Bahia e no Rio de Janeiro. Embora os clubes futebolísticos dessas capitais disputem os principais campeonatos e contem com torcedores numerosos, as arenas da Copa têm sido subutilizadas.

    Dos dois principais times do Rio Grande do Norte, por exemplo, apenas o América tira proveito da Arena das Dunas, orçada em quase meio bilhão de reais (em valores atualizados) e com capacidade para 31 mil pessoas. O ABC prefere mandar jogos em sua própria casa, o Frasqueirão —seus dirigentes afirmam que não compensa pagar o aluguel do estádio da Copa.

    No Recife, o Santa Cruz e o Sport atuam em seus próprios campos, o Arruda e a Ilha do Retiro, respectivamente. Com essa decisão, para a qual pesa a identificação dos torcedores com essas praças, a Arena Pernambuco, que custou mais de R$ 400 milhões e abriga 41 mil pessoas, fica só para o Náutico.

    Em Salvador, os dirigentes do Vitória sustentam que o clube tem maior potencial de retorno financeiro realizando partidas no Barradão, seu próprio estádio. A Arena Fonte Nova, que comporta 50 mil pessoas e consumiu pouco mais de R$ 800 milhões, tornou-se gramado quase exclusivo do Bahia.

    O mundialmente conhecido Maracanã, por sua vez, é um capítulo à parte. Quatro times do Rio de Janeiro integram a elite do futebol nacional; descontados alguns tropeços, frequentam a primeira divisão do Campeonato Brasileiro. Como não possuem um grande estádio próprio, seria natural que utilizassem o palco da final da Copa.

    O local, contudo, vive situação de abandono. Sua reforma custou R$ 1,4 bilhão aos cofres públicos e ninguém sabe ao certo quem o administrará. A Odebrecht, principal acionista da concessionária, tenta vender sua parte e devolver o Maracanã ao governo do Estado —que, como se sabe, está quebrado.

    Nunca é demais lembrar que o Brasil só adotou 12 cidades-sede para contemplar os interesses políticos do então presidente Lula (PT). Não era impossível, embora fosse pouco provável, que esse populismo ao menos rendesse frutos, como o estímulo à modernização do esporte mais popular do país.

    Nem isso. A irresponsabilidade custou muito e não rendeu nada.

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